São Paulo, sábado, 16 de março de 1996
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Grupo mata 3 por aumento de salário

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Três adolescentes foram encontrados mortos a tiros no início da manhã de ontem na estrada para o município de Nova Lima (região metropolitana de Belo Horizonte).
O "Grupo Reação", supostamente formado por integrantes da Polícia Civil de Minas Gerais, assumiu a autoria do crime por meio de telefonemas e de uma carta.
Há um ano o mesmo grupo, também por meio de uma carta, se disse responsável pelas explosões das bombas que ocorreram na capital mineira. Na carta, o grupo dizia ser formado por policiais civis.
Um homem ligou na madrugada de ontem para o jornal "Estado de Minas" comunicando a morte dos adolescentes, dando a localização dos corpos e informando que havia uma carta em uma caixa do correio no bairro Barroca, região oeste de Belo Horizonte.
Um segurança do jornal mineiro comunicou a PM, que encontrou os adolescentes mortos com tiros na cabeça. Eles tinham as mãos amarradas com cordas de náilon.
Até as 17h30 os corpos não tinham sido identificados pelo IML (Instituto Médico Legal).
Na carta, o "Grupo Reação" ataca o governador Eduardo Azeredo (PSDB) e o secretário da Segurança Pública de Minas, Santos Moreira, que preside o Conselho de Segurança do Sudeste -formado recentemente pelos Estados de MG, SP, RJ e ES para combater conjuntamente a violência na região.
Ameaças
Na mensagem, há uma indagação sobre o aumento salarial da Polícia Civil e várias ameaças. A carta foi toda montada com recortes de jornais e revistas. Há uma foto do governador mineiro com a seguinte inscrição: "FDP, onde está o dinheiro da Polícia Civil?".
O secretário é chamado de "inseto" e "Robocop gay" e recebe várias ameaças. Sobre a foto do rosto de Moreira foi escrito "criminoso" e "corrupção: sua companheira inseparável". Adiante, uma ameaça: "Santos, um desrespeito com a polícia. Inseto. Vamos pegá-lo".
"Grupo Reação retoma a sua rotina", "proteger a cidade e apagar os insetos com a operação presuntão", "por uma vida melhor, miséria alarmante, polícia quer repostas" e "o ritual de sangue não pára mais", são outras frases da carta.
Por volta das 12h30, um homem que não se identificou ligou para a Rádio Itatiaia e disse a um repórter que era para a polícia divulgar todo o conteúdo da carta. "Se isso não acontecer, prometemos encher a rua de porcaria", ameaçou.
O chefe da divisão de criminalística da Polícia Civil, Oto Teixeira Filho, disse que a polícia tem trabalhado na identificação dos corpos para facilitar as investigações. A polícia ainda não tem nenhuma pista dos autores do crime.
O presidente da Associação dos Delegados de Polícia, Reinaldo Magalhães, condenou a ação do suposto grupo e confirmou que "há insatisfação salarial dentro da Polícia Civil".

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