São Paulo, sábado, 16 de março de 1996
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Joe Henderson une o jazz e a MPB

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Raras vezes a música brasileira e o jazz se entenderam tão bem. Essa foi a impressão deixada pelo saxofonista norte-americano Joe Henderson, em uma meteórica passagem por São Paulo.
Na primeira de suas duas únicas apresentações no país, anteontem no Bourbon Street, Henderson mostrou em companhia de três músicos brasileiros porque é considerado um dos mais originais jazzistas em atividade.
"Meu nome é Stevie Wonder", disparou com bom humor, ao se despedir da platéia entusiasmada, que não deixou o quarteto sair do palco sem um bis, mesmo após uma hora e meia de show. Henderson exibiu boa parte do repertório de seu último álbum, "Double Rainbow", dedicado a Tom Jobim.
Para abrir o show, o norte-americano escolheu a clássica "Triste", seguida por uma versão bem jazzística de "Fotografia" e um delicado duo com o piano de Hélio Alves, em "Happy Madness".
Discreto e "cool" como de hábito, Henderson não tem nada de "showman". Só chama a atenção da platéia quando começa a soprar o sax tenor, improvisando frases que parecem criadas a partir de uma sintaxe sonora própria.
Se a contenção predomina em Joe Henderson, o mesmo não acontece com o exuberante trio formado por Alves, Nico Assumpção (baixo acústico) e Paulo Braga (bateria), que quase roubaram o show, nos primeiros solos.
Mas já no número seguinte, Henderson se agitou. Comandou uma versão vibrante de "Recorda Me", a primeira música que compôs, logo no início dos anos 60, sob influência da bossa nova.
O ritmo original da composição, que possuía um certo sabor latino, virou samba rasgado, graças ao molho dos brasileiros.
Porém, é quando fica sozinho que o norte-americano se supera. A versão "à capela" da balada "Lush Life" (de Billy Strayhorn) deixou a platéia sem fôlego, fascinada pelos desenhos melódicos de Henderson, que mais parecia estar fazendo uma sessão de meditação.
O "gran finale" veio em tom jazzístico, com "Take the A' Train" (de Ellington e Strayhorn). Um mestre do jazz não sairia de cena sem deixar sua marca.

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