São Paulo, sábado, 16 de março de 1996
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O CÉU NÃO É O LIMITE

O crescimento acelerado da dívida interna, que dobrou nos últimos dez meses e saltou de R$ 117 bilhões para R$ 127 bilhões só no mês de janeiro, não pode continuar a ser tratado como dado de menor importância. Trata-se de questão da maior gravidade, que exige providências vigorosas.
A manutenção obstinada de taxas de juros elevadíssimas deixa a impressão de que algumas autoridades econômicas imaginam não haver limite para o crescimento da dívida pública. Mas, ainda que seja impreciso, ele existe. É o limite da credibilidade.
Os economistas tratam esse conceito quase como um talismã, que tudo permite aos que a possuem e condena quem a perde. Mas o que sustenta esses "poderes mágicos" da credibilidade são fatores reais.
Se o rápido endividamento induzir parcelas crescentes do mercado a avaliar que a atual trajetória é insustentável, o governo começará a ter dificuldade para financiar sua dívida, para manter a valorização cambial e o controle da inflação. O governo corre o risco de ver esvair-se a confiança.
É verdade que para um Estado os limites de endividamento, assim como de financiamento do déficit externo em conta corrente, são mais maleáveis do que para empresas e outros agentes econômicos. Mas, ao fim e ao cabo, prevalece a mesma lógica. Não há como financiar indefinidamente uma entidade que não apresente capacidade de pagamentos.
O súbito desmoronamento da estabilização mexicana foi, recentemente, o exemplo mais contundente desse fato. Aquele país pareceu inebriado pelos confortos do financiamento externo e descuidou de sua capacidade de pagamentos. Solapados os fundamentos reais da credibilidade, de nada serviram os unânimes prognósticos otimistas das consultorias internacionais nem os elogios do FMI.
Se não quiser ser surpreendido, o Brasil precisa encarar de frente a lógica implacável dos fatos. A dívida pública precisa ser contida.

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