São Paulo, sábado, 16 de março de 1996
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"O ÚLTIMO A SAIR..."

Infelizmente têm-se tornado muito frequentes os sinais de que alguns homens públicos no Brasil não somente parecem desprezar os ditames fundamentais da "liturgia do cargo" (como dizia um ex-presidente), mas também nutrem um ceticismo inaudito e pernicioso em relação à sua própria área de competência.
Na segunda-feira passada, o presidente do Superior Tribunal de Justiça foi refém de assaltantes por 40 minutos em São Paulo, tendo sido-lhe roubada uma pequena quantia em dinheiro. Já libertado, manifestou desinteresse em fazer a ocorrência do assalto. "Não vale a pena", disse o ministro, ir à polícia para depois "ser incomodado mais quatro, cinco vezes, sem nenhuma chance".
O que terá se passado em seu espírito? Será que para o magistrado "não vale a pena" recorrer aos serviços da polícia ou "não vale a pena" pelejar por alguns tostões roubados? Ou ambas as coisas ao mesmo tempo?
Em qualquer dos casos, é flagrante -e lastimável- a desqualificação de uma instância do Poder Executivo que, como o próprio STJ, tem como dever atuar em nome da lei e lutar pela sua rigorosa observância.
Seja elevada ou não a quantia roubada, venham a ser ou não localizados os ladrões, demorem ou não as buscas, o mínimo que nessas circunstâncias se espera de um representante do Poder Judiciário é se dispor a contribuir para que os infratores sejam localizados e devidamente punidos.
Parece, porém, que a troça getulista de triste memória, "Lei? Ora, a lei...", já está fazendo escola também entre alguns homens públicos. A continuar assim, outra zombaria, mais recente, voltará em breve à boca dos brasileiros: "O último a sair, por favor, apague a luz e feche a porta".

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