São Paulo, domingo, 17 de março de 1996 |
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Febraban teme que CPI alimente boatos
RODNEY VERGILI
Ele entende, porém, que os assuntos bancários devem ser tratados sigilosamente, para evitar que a manipulação do debate público leve à quebra de instituições. Para ele, fraude como aconteceu, por exemplo, no Banco Nacional "não é regra, é exceção". Schulman diz que a discussão sobre a independência do Banco Central ou a criação de um órgão fiscalizador são assuntos secundários. "O que interessa é que, qualquer que seja o órgão fiscalizador, execute o seu trabalho com eficiência." O presidente da Febraban acredita que o Banco Central deve ser melhor equipado com recursos humanos e tecnológicos para acompanhar o desenvolvimento do mercado financeiro brasileiro. * Folha - Que consequência pode ter a CPI do sistema financeiro? Maurício Schulman - Os bancos não têm nada a esconder. Nós entendemos, no entanto, que esses assuntos devam ser tratados sigilosamente, como ocorre no mundo inteiro. Os bancos são sensíveis e vivem da credibilidade do público. Os bancos não têm nada a esconder, já que a autoridade -o Banco Central- tem o poder e a autonomia para fazer qualquer tipo de inspeção. Folha - Os bancos teriam receio das investigações? Schulman - Se você torna pública uma pergunta maldosa ou mal-intencionada sobre um banco acaba afetando a instituição financeira, sem possibilidade de retorno. Por isso, no mundo inteiro, esses assuntos são investigados com discrição. Não que os bancos tenham alguma coisa a esconder. Ao contrário, os bancos são muito fiscalizados pela autoridade. Folha - O sr. acha que a CPI deveria revirar o passado dos bancos ? Ou o sr. acha que o passado deve ser esquecido? Schulman - Não é isso que está em jogo. Quem tem problemas deve ser acionado. Se houve irregularidade, a instituição e as pessoas têm que ser punidas. Folha - O que está em jogo ? Schulman - Veja o caso de uma instituição, sem nenhum problema financeiro ou econômico, que, por exemplo, tenha sido multada por uma pequena irregularidade. Se for para um debate público mal-intencionado, a empresa quebra. Na realidade, o que seria importante, no caso, é apenas a aplicação da multa, se essa fosse a pena prevista. Folha - Na opinião do senhor qual deveria ser o esquema ideal de fiscalização a ser adotado. Fica como está, cria-se um órgão independente? Schulman - O Banco Central deve se equipar para fiscalizar de maneira adequada. Além dos bancos, o BC cuida de outras atividades que têm importância, mas não são do mesmo grau, como os consórcios. É preciso separar essas atividades. Folha - O senhor acha que deveria haver uma concentração do Banco Central na fiscalização apenas dos bancos? Schulman - Não se pode misturar tantas atividades no Banco Central, sem um aumento no número de funcionários. O BC tem poucos funcionários, pois há anos não realiza concurso público. A carreira de serviço público tem sido bastante ingrata e, a partir de algum tempo, passa-se a pensar na aposentadoria. O funcionário do Banco Central aposentado ganha praticamente o mesmo do que o em atividade. O Banco Central precisa de mais funcionários e mais instrumentos de controle das instituições financeiras. Folha - O senhor acredita que para desenvolver adequadamente suas atividades, o Banco Central deve ser independente? Schulman - A noção de dependência ou independência não é fundamental. O que precisa é que o Banco Central tenha os instrumentos e recursos humanos para fazer o que tem de fazer. Folha - A ser reformado, como o ministro Malan disse que gostaria, qual seria o modelo ideal para o Banco Central? Semelhante ao Fed (banco central dos EUA) ou ao Banco Central da Alemanha? Schulman - Qualquer que seja o modelo, o Banco Central do Brasil precisa se equipar. O sistema financeiro brasileiro evoluiu muito. Os novos produtos financeiros exigem uma capacitação tecnológica muito grande. O Banco Central tem essa capacitação, mas não sei se tem na escala exigida pelo mercado brasileiro. Outros bancos centrais no mundo são mais discretos, fazem menos coisas. Folha - Seria suficiente equipar o Banco Central com recursos humanos e tecnológicos para evitar as fraudes no sistema financeiro? Schulman - As fraudes acontecem em qualquer atividade e no mundo inteiro. Qualquer que seja o nível do Banco Central pode haver uma fraude. A fraude é uma exceção, não é a regra. Texto Anterior: Vazamentos e juros são alvos Próximo Texto: Suécia criou banco central Índice |
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