São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Febraban teme que CPI alimente boatos

RODNEY VERGILI
DA REDAÇÃO

O presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), Maurício Schulman, 64, diz em entrevista à Folha que "os bancos não tem nada a esconder" da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre o sistema financeiro.
Ele entende, porém, que os assuntos bancários devem ser tratados sigilosamente, para evitar que a manipulação do debate público leve à quebra de instituições.
Para ele, fraude como aconteceu, por exemplo, no Banco Nacional "não é regra, é exceção".
Schulman diz que a discussão sobre a independência do Banco Central ou a criação de um órgão fiscalizador são assuntos secundários. "O que interessa é que, qualquer que seja o órgão fiscalizador, execute o seu trabalho com eficiência."
O presidente da Febraban acredita que o Banco Central deve ser melhor equipado com recursos humanos e tecnológicos para acompanhar o desenvolvimento do mercado financeiro brasileiro.
*
Folha - Que consequência pode ter a CPI do sistema financeiro?
Maurício Schulman - Os bancos não têm nada a esconder. Nós entendemos, no entanto, que esses assuntos devam ser tratados sigilosamente, como ocorre no mundo inteiro. Os bancos são sensíveis e vivem da credibilidade do público.
Os bancos não têm nada a esconder, já que a autoridade -o Banco Central- tem o poder e a autonomia para fazer qualquer tipo de inspeção.
Folha - Os bancos teriam receio das investigações?
Schulman - Se você torna pública uma pergunta maldosa ou mal-intencionada sobre um banco acaba afetando a instituição financeira, sem possibilidade de retorno. Por isso, no mundo inteiro, esses assuntos são investigados com discrição. Não que os bancos tenham alguma coisa a esconder. Ao contrário, os bancos são muito fiscalizados pela autoridade.
Folha - O sr. acha que a CPI deveria revirar o passado dos bancos ? Ou o sr. acha que o passado deve ser esquecido?
Schulman - Não é isso que está em jogo. Quem tem problemas deve ser acionado. Se houve irregularidade, a instituição e as pessoas têm que ser punidas.
Folha - O que está em jogo ?
Schulman - Veja o caso de uma instituição, sem nenhum problema financeiro ou econômico, que, por exemplo, tenha sido multada por uma pequena irregularidade. Se for para um debate público mal-intencionado, a empresa quebra. Na realidade, o que seria importante, no caso, é apenas a aplicação da multa, se essa fosse a pena prevista.
Folha - Na opinião do senhor qual deveria ser o esquema ideal de fiscalização a ser adotado. Fica como está, cria-se um órgão independente?
Schulman - O Banco Central deve se equipar para fiscalizar de maneira adequada. Além dos bancos, o BC cuida de outras atividades que têm importância, mas não são do mesmo grau, como os consórcios. É preciso separar essas atividades.
Folha - O senhor acha que deveria haver uma concentração do Banco Central na fiscalização apenas dos bancos?
Schulman - Não se pode misturar tantas atividades no Banco Central, sem um aumento no número de funcionários. O BC tem poucos funcionários, pois há anos não realiza concurso público.
A carreira de serviço público tem sido bastante ingrata e, a partir de algum tempo, passa-se a pensar na aposentadoria. O funcionário do Banco Central aposentado ganha praticamente o mesmo do que o em atividade. O Banco Central precisa de mais funcionários e mais instrumentos de controle das instituições financeiras.
Folha - O senhor acredita que para desenvolver adequadamente suas atividades, o Banco Central deve ser independente?
Schulman - A noção de dependência ou independência não é fundamental. O que precisa é que o Banco Central tenha os instrumentos e recursos humanos para fazer o que tem de fazer.
Folha - A ser reformado, como o ministro Malan disse que gostaria, qual seria o modelo ideal para o Banco Central? Semelhante ao Fed (banco central dos EUA) ou ao Banco Central da Alemanha?
Schulman - Qualquer que seja o modelo, o Banco Central do Brasil precisa se equipar. O sistema financeiro brasileiro evoluiu muito. Os novos produtos financeiros exigem uma capacitação tecnológica muito grande. O Banco Central tem essa capacitação, mas não sei se tem na escala exigida pelo mercado brasileiro.
Outros bancos centrais no mundo são mais discretos, fazem menos coisas.
Folha - Seria suficiente equipar o Banco Central com recursos humanos e tecnológicos para evitar as fraudes no sistema financeiro?
Schulman - As fraudes acontecem em qualquer atividade e no mundo inteiro. Qualquer que seja o nível do Banco Central pode haver uma fraude. A fraude é uma exceção, não é a regra.

Texto Anterior: Vazamentos e juros são alvos
Próximo Texto: Suécia criou banco central
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.