São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-presidente transmite inquietação a petistas

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Senado, José Sarney, teme que o presidente Fernando Henrique Cardoso esteja cultivando o autoritarismo.
A inquietação foi transmitida anteontem aos dirigentes do PT que procuraram Sarney para tentar forçar a instalação da CPI sobre o sistema financeiro.
Sarney mencionou, para dar base a seus temores, as críticas ao Congresso feitas por FHC durante palestra no Colégio do México, no mês passado, e as menções à "fujimorização" que alguns parlamentares disseram ter ouvido do presidente em um jantar na casa de Pauderney Avelino (PPB-AM).
À saída do jantar, a versão inicial fora a de que FHC dissera estar recebendo conselhos de assessores para fazer no Brasil o que seu colega peruano, Alberto Fujimori, fez em 1992 -fechar o Congresso.
O Palácio do Planalto desmentiu enfaticamente a versão, mas, na cabeça de muitos congressistas, ela prevaleceu sobre o desmentido.
No encontro com os petistas, Sarney assumiu uma posição de defesa da instituição, de que dá mostra a frase mais enfática que seus interlocutores transmitiram depois aos jornalistas.
"Não sou líder do governo e, sim, presidente do Congresso", afirmou Sarney.
Essa idéia está na cabeça do senador há mais tempo, tanto que ela já havia sido dita à Folha uma semana antes, no momento em que o governo o culpava pelas suas primeiras derrotas no Congresso.
Com isso, tenta dar a seu confronto com o governo, agora mais aberto, um caráter menos pessoal e eleitoral e mais institucional.
Por esse caminho, o ex-presidente tenta passar a idéia de que ele é o defensor do Congresso contra uma suposta tentação autoritária do governo e não um candidato em potencial à Presidência que está colidindo com outro (FHC, na hipótese de a reeleição ser aprovada).
Seja qual for o fundo real das divergências, elas ganharam uma dinâmica própria, acentuada pelas críticas do governador cearense Tasso Jereissati a Sarney.
Tanto assim que Jorge Bornhausen, presidente do PFL, sai da suavidade que quase sempre caracteriza suas reações para afirmar:
"O Tasso está fora do clima do Congresso e, por isso, errou. Se tivesse ficado quieto, teria sido muito melhor."
Bornhausen diz que está em curso um "trabalho de pacificação" (entre governistas e Sarney), mas vê êxito apenas relativo nele.
"Para quem tem intimidade com ele, Sarney deixa meia porta aberta para conversar", diz Bornhausen, com o que admite que a outra metade da porta está fechada.
Há indícios de que a metade ainda aberta pode ser fechada, se depender do estado de ânimo do filho de Sarney, o deputado Zequinha Sarney (PFL-MA). Ele tentou, a todo custo, conversar com José Dirceu, presidente do PT, após a reunião entre petistas e seu pai.
Como Dirceu já tinha viagem marcada, o encontro não ocorreu, mas o presidente do PT acha que essa porta, sim, continua aberta.

Texto Anterior: Tasso rompe uma velha aliança
Próximo Texto: No Brasil do real, intelectuais defendem banqueiros
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.