São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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Casal têm três filhos com a anomalia

PAULO ZOCCHI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURURUPU (MA)

Três dos oito filhos do pescador Raimundo Silva, 36, e de Eleílde Bastos Silva, 32, são albinos com diferentes gradações. O mais despigmentado é Diogo, 7.
"A pele do Diogo sempre machuca", afirma Eleílde. "Ferida nele vira uma coisa enorme, se pega sol cria bolha." Sua maior dificuldade é impedir que o filho vá brincar ao ar livre. Sempre que se queima de sol, Diogo passa a noite chorando, mas não aprende.
A família mora no povoado de Bate-Vento, separado da ilha dos Lençóis por um canal de mangue com largura de algumas centenas de metros. O marido e a mulher, normais, vêm da ilha vizinha e são parentes dos albinos.
Seus filhos mostram como o gene do albinismo pode ficar escondido durante algumas gerações. A avó de Raimundo era albina. Pelo lado de Eleíde, o último albino foi o avô paterno de sua mãe.
O gene recessivo do albinismo foi repassado até os dois, sempre escondido pelo gene dominante que determinava a produção do pigmento melanina na pele. Como os dois têm um gene para albinismo, terão provavelmente um filho albino a cada três normais, em média.
O filho Edevaldo, 11, além de albino, é deficiente físico. Seus pés são deformados e ele anda com dificuldade, mas já começou a trabalhar na pesca, ajudando os adultos.
Os problemas de Edevaldo são explicáveis. Não é incomum que albinismo seja acompanhado de más-formações genéticas, pois o parentesco do casal que facilitou o aparecimento do problema também pode provocar deformações.
As crianças já foram examinadas. As feridas de Diogo fizeram a mãe levar os três filhos albinos para São Luís há alguns meses, numa viagem de barco ao custo de R$ 20 ida e volta. O médico que os atendeu em um posto de saúde receitou a pomada Quadriderme para os ferimentos na pele, além de fortificantes. Eleílde comprou os remédios e manda comprar mais sempre que consegue juntar dinheiro.
Ela critica o prefeito Valdir Ribeiro porque não há remédios no posto de saúde local, vazio há anos. Na atual gestão, também acabou a merenda escolar. "Quando tem merenda é mais fácil, porque as crianças tomam mais a influência da escola", disse.
(PZ)

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