São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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CPI liga clandestinos à morte de menores

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E DA SUCURSAL DO RIO

Segundo a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre Extermínio de Menores do Congresso Nacional, 4.611 menores de 17 anos foram mortos no período de 1988/1990.
Desse total, 52% morreram vítimas de vigilantes ilegais ou policiais que faziam "bicos" em serviços de segurança clandestina.
Na opinião do presidente do Sindicato das Empresas de Segurança e Vigilância do Estado do Rio de Janeiro, Carlos Cure, o grande número de ocorrências envolvendo policiais se deve principalmente à formação psicológica da polícia. Segundo ele, são os policiais que formam a maioria do mercado paralelo carioca.
"Um policial está acostumado a ser autoridade, não admite desaforo e saca a arma facilmente. O frequentador de um bar, por exemplo, ao desacatar um suposto segurança, não sabe que está falando com um policial", afirma Cure.
O diretor-geral da PF, Vicente Chelotti, cita ainda outro fator, a falta de preparo, "que leva os vigilantes a atirar à toa ou a entregar suas armas sem reação".
O valor dos salários também ajuda a engrossar as irregularidades. Com remuneração média de R$ 250, os vigilantes clandestinos, armados ou não, recorrem a atividades criminosas para engordar seus vencimentos -protegem bicheiros e traficantes e até participam de sequestros e roubos.
Fiscalização
No ano passado, a deputada Rita Camata (PMDB-ES) conseguiu aprovar uma lei que exige cursos e certificado de antecedentes criminais para contratar vigilantes.
À Polícia Federal cabe investigar o cumprimento da lei.
A PF, no entanto, tem problemas de pessoal, salário e meios para assumir a função legal de controle.
No Rio, por exemplo, dos dez integrantes da Comissão de Vistoria da PF, apenas dois são usados na fiscalização do setor e na apuração de denúncias contra firmas e vigilantes clandestinos.
Segundo o superintendente da PF no Estado, Jairo Kullmann, muitas empresas que prestam serviços de segurança estão registradas em outras atividades, como limpeza e zeladoria.
"Não temos tempo de caçar as clandestinas. Nosso trabalho já é grande demais com as legalizadas", afirma Kullmann.
A PF carioca chancela o certificado que cada vigilante deve ter para exercer legalmente a profissão. Mas nem a duração do curso -três semanas- é adequada.
"Esse tempo seria razoável se a violência não tivesse invertido a concepção do vigilante. A profissão não foi pensada para reprimir, mas para prevenir", diz Carlos Cure, presidente do sindicato das empresas de vigilância.

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