São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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Passagem aérea é mais cara que nos EUA

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quatro empresários embarcam para trajetos de 300 quilômetros. O norte-americano paga R$ 79,64 pelo bilhete Nova York-Boston.
O canadense faz Montreal-Nova York por R$ 149,90 e o francês faz o trecho Paris-Londres por R$ 241,00.
O brasileiro pagará a terceira maior tarifa: R$ 199,25 para viajar de São Paulo a São José do Rio Preto.
São comparações feitas com base na "tarifa cheia", que é paga por quem embarca de última hora, não tem previsão de volta e assim não se beneficia de nenhum tipo de desconto.
No Brasil -16,5 milhões de passageiros em 1995- o mercado ainda não foi desregulamentado.
As empresas aéreas não concorrem umas com as outras por meio da oferta de uma tarifa mais reduzida.
Elas fixam em conjunto uma tabela de preços das passagens e a colocam em prática sob o guarda-chuva do DAC (Departamento de Aeronáutica Civil), do Ministério da Aeronáutica.
O quadro abaixo demonstra que para as distâncias maiores as passagens brasileiras são nominalmente mais baratas que as norte-americanas ou européias.
Preço maior
Mas isso nem sempre é verdade. A regulamentação limita os descontos e com isso o preço médio pago pelo passageiro acaba sendo maior no Brasil.
"É um mercado amarrado, que nos prejudica; 70% dos pequenos empresários de Santa Catarina viajam a São Paulo de ônibus porque viajar de avião sai muito caro", diz Haroldo Neitzke, presidente da federação dos microempresários catarinenses.
Ele considera "absurdo" pagar pelo trajeto Florianópolis-Brasília R$ 612,00, quando pode viajar para a Alemanha por R$ 1.100,00.
Clarice Pechman, que faz em média dez viagens mensais de avião, é diretora-executiva da Associação Nacional das empresas credenciadas em Câmbio.
"Com a desregulamentação virá a concorrência e isto faz uma diferença extraordinariamente grande", diz ela.
Sem plano
Mas ela também considera inconveniente uma concorrência predatória, porque o corte nos custos pode afetar a correta manutenção dos aviões.
A Folha apurou que o governo federal não tem por enquanto nenhum plano que desamarre o sistema de tarifas da aviação civil.
Além das tarifas aéreas, ele define o preço do combustível, as taxas de aeroportos e a concessão de linhas.
Há pouco mais de um ano voltou a circular a idéia de tirar do Ministério da Aeronáutica o órgão regulador e transferi-lo para o Ministério dos Transportes. Mas depois ninguém mais tocou no assunto.
São homens de negócios 94% dos passageiros dos vôos domésticos. Mas a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) ou a CNI (Confederação Nacional da Indústria) não tem nenhum estudo sobre o peso do preço das passagens aéreas no chamado "custo Brasil".
Vítimas
Ou seja, ninguém se instrumentaliza para a eventual montagem de um "lobby", mesmo se, individualmente, os empresários argumentem que as tarifas aéreas acabam incidindo em seus custos finais.
Na opinião das companhias aéreas brasileiras , no entanto, elas próprias são vítimas do "custo Brasil" (ver texto nessa página), ao pagarem mais impostos e terem mais encargos salariais que suas congêneres estrangeiras.

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