São Paulo, domingo, 17 de março de 1996 |
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Para Langoni, autonomia do BC é melhor do que CPI Ex-presidente do Banco Central quer instituição que diga não ANTONIO CARLOS SEIDL
Essa é a opinião do economista Carlos Geraldo Langoni, 51, ex-presidente do Banco Central (1980/83), que ocupa atualmente o cargo de diretor do Centro de Economia Mundial da FGV (Fundação Getúlio Vargas), no Rio de Janeiro. Para Langoni, a saída para a crise financeira é a independência do BC. Ele diz que o governo deveria enviar imediatamente um projeto de lei ao Congresso neste sentido. "Isso, na verdade, significa permitir que o BC tenha maior espaço político para dizer não". Na última quarta-feira, Langoni concedeu entrevista à Folha. Os principais trechos são os seguintes: * Folha - O que está acontecendo com o sistema bancário nacional? Carlos Geraldo Langoni - A crise era previsível. O sistema passou pelos mesmos problemas em todas as experiências históricas de estabilização. É o mais vulnerável quando uma economia sai de uma inflação crônica com uma rápida redução da taxa de inflação. Folha - Por que? Langoni - Porque há mudança qualitativa nas fontes de lucratividade do sistema financeiro. Num ambiente inflacionário, o banco capta uma parte da receita inflacionária. Então, na verdade, ele passa a ser quase um corretor do governo. Perde a agilidade, fica desacostumado a desempenhar sua função principal que é a intermediação. Folha - Se a crise era prevista, por que não foi evitada? Langoni - O BC deveria ter sido preparado para lidar com essa crise anunciada. O Proer e os mecanismos para viabilizar fusões de bancos deveriam ter sido colocados à disposição do BC junto com a introdução do Plano Real. É um pouco da cultura brasileira de reagir apenas às crises. O sistema financeiro brasileiro ainda é saudável. Não vejo problemas sistêmicos. Mas, evidentemente, o processo teria sido menos traumático se o governo tivesse se preparado desde o início do Real. Folha - A crise atual pode afetar a credibilidade do sistema bancário? Langoni - Curiosamente, não. As expectativas continuam favoráveis, apesar dos problemas. Há, no máximo, desconfiança localizada. Folha - É preciso uma CPI? Langoni - Sinceramente, acho que não. Não acho que a CPI por si só vá desestabilizar o sistema financeiro ou gerar crise de confiança ou fuga maciça de depósitos. É exagero. Mas, por outro lado, também não acho que a CPI seja o veículo mais adequado para a modernização institucional do BC, nem para o processo de reestruturação. Folha - Como deveria ser essa reestruturação? Langoni - O que está faltando na realidade é uma iniciativa do governo para acelerar esse processo. Ao invés de discutir se vai ou haver uma CPI dos bancos, o governo deveria aproveitar esse momento para apresentar um projeto de lei, facilitando ainda mais o processo de modernização do sistema. Algumas medidas importantes foram adotadas, como a criação do seguro-depósito e dos novos instrumentos de intervenção do BC, mas precisamos ir além. Folha - Como? Langoni - Ir além é ir na direção de dar, de fato, uma maior autonomia ao BC. Permitir que o BC tenha maior espaço político para dizer não ao excesso de gastos, às formas inflacionárias de financiar a economia, à instabilidade monetária. Folha - A autonomia do BC seria o passo mais importante? Langoni - Sem dúvida. Não significa, porém, dar carta branca ao BC. O objetivo é proteger o BC das pressões políticas. A diretoria seria indicada pelo presidente da República, aprovada pelo Congresso e com mandato fixo, de preferência não coincidente com mudança de governos. O Congresso manteria o poder de fiscalizar a própria ação do BC. Texto Anterior: Um bom BC Próximo Texto: BID quer maior controle dos capitais voláteis na AL Índice |
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