São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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Meteoros marcianos podem ter sido mais 'ágeis'

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os meteoritos em geral provêm de asteróides. Mas foi possível identificar alguns como lunares com o conhecimento proporcionado pelas pedras trazidas da Lua.
Também foi possível mostrar que alguns são marcianos comparando o ar preso dentro deles com dados da atmosfera marciana coletados pelas sondas Viking.
As causas do bombardeio de meteoros ainda são debatidas. Existe mesmo quem duvide que o fenômeno aconteceu de modo concentrado, e há quem diga que ele se limitou ao sistema Lua-Terra.
Pode ter acontecido algo parecido com a colisão do cometa Shoemaker-Levy 9, que se fragmentou e depois espatifou-se contra Júpiter. Pedaços de cometa ou asteróide teriam "chovido" no Sistema Solar. Duas pesquisas recentes sustentam a tese do bombardeio marciano.
Uma equipe da Universidade de Manchester, Inglaterra -R. D. Ash, S. F. Knott e G. Turner-, publicou artigo na revista científica "Nature" revelando uma nova datação para o ALHH84001 (nome completo, Allan Hills 84001).
A datação é baseada no estudo mineralógico da própria rocha -isto é, suas caracterísicas físicas, que indicam como ela se formou e se sofreu algum tipo de choque.
Também são feitas análises químicas, mas o dado principal vem do estudo da proporção de determinados "isótopos" (variantes de um mesmo elemento químico, mais "leves" ou mais "pesadas").
A datação se baseia nas propriedades radiativas de alguns isótopos. Com o tempo, diminui a proporção de um isótopo em relação a outro. No caso do meteorito marciano, o elemento que serviu para a análise isotópica foi o argônio.
Com isso, eles puderam colocar o meteorito numa posição única. Todos os outros fragmentos de Marte disponíveis têm idade em torno de 1,3 bilhão de anos. São novinhos comparados ao ALH84001.
O outro estudo sobre meteoritos marcianos optou por tentar entender o longo caminho que eles levam para chegar na Terra.
A equipe de Brett Gladman, da Universidade Cornell (Nova York), publicou artigo na revista "Science" mostrando que eles têm condições de chegar de Marte com mais facilidade do que se pensava.
Eles fizeram simulações em computador da trajetória de meteoritos lunares e marcianos conhecidos. Concluíram que podem não só chegar mais rapidamente, mas também em um fluxo maior.
O artigo parte da premissa de que o ALH84001 tenha a mesma idade que seus colegas "jovens". A nova datação tende a atrapalhar os cálculos de Gladman e colegas.
Seja como for, a pesquisa só está começando. Os pesquisadores têm esperança de obter mais dados com a descoberta de novos meteoritos e com os resultados das sondas espaciais que deverão voltar a Marte a partir do ano ano que vem.
Comentando a pesquisa, Clark Chapman, do Instituto de Pesquisa do Sudoeste, de Boulder (EUA), não resistiu ao clichê: "É apenas uma pedra, mas o ALH84001 pode ser a ponta de um iceberg".

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