São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Polônia proíbe shopping center perto do campo de Auschwitz

The Independent
de Londres

ADRIAN BRIDGE
EM BERLIM

Um plano controvertido para construir um shopping em frente aos portões do antigo campo de extermínio de Auschwitz foi postergado por tempo indeterminado pelo governo polonês na semana passada, depois de recebido com protestos veementes por parte de grupos judeus internacionais e políticos israelenses de alto escalão.
O ministro polonês da Cultura, Zdzislaw Podkanski, declarou que as obras de construção no local deveriam ser interrompidas imediatamente enquanto o projeto passa por um estudo exaustivo. Outros representantes do governo, porém, afirmaram que as chances de o projeto ser concretizado são agora praticamente nulas.
"Houve reações negativas muito fortes contra o projeto, e precisamos ser sensíveis a elas", afirmou Krzystof Sliwinski, o embaixador polonês a cargo das relações com comunidades judaicas.
Sob os planos traçados por um grupo de empresários locais e internacionais, o complexo proposto incluiria um supermercado, um restaurante de "fast-food" e um centro de jardinagem.
O projeto, que seria construído em edifícios já existentes em frente ao portão principal do campo de extermínio, recebeu a aprovação da prefeitura da cidade vizinha de Oswiecim, que argumentou que ele não ia contra um decreto da Unesco de 1979, que criou uma zona protetora de 500 metros em volta do campo.
Os planos também contavam com o apoio do diretor do museu de Auschwitz, Jerzy Wroblewski, para quem "não eram danosos sob aspecto algum".
Mas a opinião de dirigentes judaicos e sobreviventes de Auschwitz era outra. Eles consideraram o shopping proposto uma afronta à memória dos estimados 2,4 milhões de mortos no mais infame dos campos de extermínio nazistas e o compararam a uma tentativa semelhante, feita em 1991, de construir um shopping no local do ex-campo de concentração de Ravensbruck, na Alemanha.
Zygmunt Sobolewski, sobrevivente de Auschwitz e vice-presidente da Sociedade de Conscientização sobre Auschwitz, criticou o que descreveu como uma "tentativa desavergonhada" de capitalizar em cima das 500 mil pessoas que visitam Auschwitz anualmente.
A confusão acerca do proposto shopping em Auschwitz acontece pouco mais de um ano após as relações entre a Polônia e as organizações judaicas serem atingidas pelos desentendimentos sobre a forma de comemoração do 50º aniversário de libertação de Auschwitz.

Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: A culpa é da genética
Próximo Texto: Cargo britânico é questionado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.