São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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Insegurança do PC motiva as ameaças

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

Nacionalismo, insegurança do governo e concessões a militares são os principais combustíveis que alimentam a ofensiva de Pequim contra Taiwan. A "ilha rebelde" escolheu um momento delicado para tentar aumentar sua presença no cenário internacional, provocando reação firme da China.
Implementando reformas pró-capitalistas desde 1978, o Partido Comunista vê derreter sua base ideológica. Tenta se agarrar ao nacionalismo para legitimar sua permanência no poder.
A onda nacionalista chinesa ganha intensidade com a recuperação da colônia britânica de Hong Kong, prevista para 1997, e da colônia portuguesa de Macau, que retorna à China em 1999. Portanto, ficaria faltando apenas Taiwan para voltar aos braços de Pequim.
Sucessão
Os dirigentes chineses também se sentem inseguros diante da perspectiva da morte de Deng Xiaoping, 91. O líder comunista patrocinou a chegada ao poder do presidente Jiang Zemin, que conta com uma frágil sustentação política.
Para Jiang Zemin, permitir a independência de Taiwan significaria o fim da sua carreira. Perderia autoridade para comandar a sucessão de Deng Xiaoping.
Ciente de sua fragilidade no poder, Jiang Zemin busca aumentar sua base de apoio. Isso significa concessão à cúpula militar, que exige um endurecimento na estratégia para Taiwan.
Jiang Zemin se esforçou, em 1995, na tentativa de promover uma reunificação pacífica. Pequim propõe a fórmula "uma China, dois sistemas", ou seja, Taiwan seria uma Província com direito a manter seu modelo capitalista.
Negociações
Lee Teng-hui teme a mão pesada dos comunistas. Para retomar negociações, interrompidas ano passado, exige que Pequim desista da ameaça de atacar a ilha.
Taiwan espera que sua importância econômica para Pequim leve o governo chinês a repensar qualquer tentativa de invasão. A China já recebeu USŸ 24 bilhões de investimentos de Taiwan.
Embora na atual crise a possibilidade de invasão seja remota, analistas de Hong Kong avaliam que a recuperação de Taiwan seria um dos poucos motivos que poderiam levar o governo chinês a uma aventura militar.
A invasão atrasaria as reformas econômicas na China, porque afastaria investimentos estrangeiros. Traria ainda custos diplomáticos, pois o regime chinês seria retratado como uma "ameaça militar".
Um ataque a Taiwan significa também provável intervenção dos EUA. O país não poderia assistir de braços cruzados ao fortalecimento militar da China na Ásia.

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