São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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FANTASMAS E EMBRIAGUEZ

O que parecia um fantasma a povoar apenas a cabeça dos mais fantasiosos começa a ser visto como uma inquietação mais generalizada. Trata-se do temor de que o presidente Fernando Henrique Cardoso esteja cultivando o autoritarismo.
Esse fantasma, aliás, sob o rótulo de "fujimorização", já espantara as noites de Brasília, semanas atrás. Um grupo de parlamentares jantou com FHC e alguns deles relataram, depois, aos jornalistas que o presidente dissera ter ouvido sugestões de amigos para que fechasse o Congresso, como o fez o presidente peruano.
A versão foi desmentida oficialmente, antes mesmo que os jornais do dia seguinte pudessem circular com ela. Mas não são poucos os congressistas que, até hoje, parecem acreditar mais na versão do que no desmentido.
As críticas ao Congresso feitas pelo presidente em palestra no Colégio do México só contribuíram para reforçar o vulto do fantasma. O comportamento de alguns dos mais íntimos colaboradores do presidente é ainda mais inquietante. É como se o poder os inebriasse e deslumbrasse.
Um dos que mais vem cultivando a suposta inclinação ao autoritarismo de parte de FHC é o presidente do Congresso, José Sarney, que parece querer dar a seu conflito com o governo, cada vez mais aberto, um verniz institucional. Sarney posa assim de defensor das instituições, da democracia, contra um suposto candidato a Fujimori brasileiro.
Essa versão talvez soe mais digna, aos olhos do público, do que uma disputa meramente eleitoreira entre Sarney, visivelmente candidato a candidato para 1998, e FHC, candidato óbvio a suceder a si mesmo, se for aprovada a emenda da reeleição.
O deslumbramento do presidente e de seus auxiliares lembra por vezes o comportamento de Fernando Collor e equipe. Trata-se de postura inconveniente a alimentar um fantasma que é, sob todos os aspectos, extremamente nocivo ao país.

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