São Paulo, domingo, 17 de março de 1996 |
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"Irmã Catarina" abusa dos valores cristãos
ELAINE GUERINI
O formato segue à risca aquela velha e desgastada fórmula -a história se arrasta em meio a amores impossíveis, doenças e outros elementos típicos de um bom dramalhão. O que não deixa a minissérie passar despercebida é o enfoque religioso. É verdade que, antes mesmo da estréia (no último dia 11, na CNT/Gazeta), a série já havia sido anunciada como uma produção católica. E é isso mesmo. Apesar de recorrer à linguagem das novelas, o objetivo da Associação do Senhor Jesus -entidade responsável pela produção- não é entreter, mas sim evangelizar o telespectador. Não é difícil reconhecer os valores cristãos embutidos no roteiro (além das cenas que envolvem orações, é claro). Não é por acaso que a personagem Lúcia (vivida pela atriz Patrícia Luchesi) é rejeitada pelo namorado depois de perder a virgindade -detalhe: com o próprio. E bem que uma amiga da família já tinha avisado: "Os homens fazem de tudo para conseguir o que querem. Depois, perdem o interesse". Qualquer semelhança com o discurso "sexo, só depois do casamento" não é mera coincidência. Outros valores cristãos como "amor ao próximo" e "desapego material" também desfilam pela trama. E, como acontece na maioria das novelas, o bem está sempre de um lado e o mal de outro -da maneira mais explícita possível. O maior acerto da Associação do Senhor Jesus foi mesmo a escolha de Myrian Rios para o papel da irmã Catarina. A atriz não consegue empolgar como uma noviça rebelde da vida, mas confere dignidade à protagonista. Na verdade, Myrian não esconde ser uma seguidora do movimento de Renovação Carismática -ela até abriu mão do cachê em nome de sua identificação com a proposta de "evangelização eletrônica". Texto Anterior: A cruzada dos meninos Índice |
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