São Paulo, terça-feira, 19 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC articulou uma CPI contra Sarney

'Quem não deve, não teme', dizia o senador

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O debate sobre a CPI dos bancos revela uma inversão dos papéis desempenhados por Fernando Henrique Cardoso e José Sarney em 1988, quando FHC era senador e Sarney o presidente.
Na época, FHC foi um dos principais articuladores da CPI da Corrupção, criada para apurar irregularidades no governo Sarney. O relatório da CPI, aprovado em 29 de novembro daquele ano, pediu o impeachment do então presidente e dos ministros Antônio Carlos Magalhães e Mailson da Nóbrega, entre outros.
"Como líder da bancada do PMDB, manifesto meu apoio a essa iniciativa", disse FHC em discurso em 21 de janeiro de 1988.
A declaração do líder do PMDB causou espanto, mas ele argumentou: "O fato de termos o partido da maioria e de sustentarmos o governo, ao contrário de nos inibir, leva-nos a aprovar manifestação dessa natureza, porque o governo deseja o esclarecimento cabal dos fatos, e, se não deseja, não é democrático".
A CPI foi instalada em 10 de fevereiro de 1988. Naquele dia, FHC fez novo discurso: "Não podemos mais nos calar", disse.
"Ou é verdade ou não é verdade e, se for verdade, que se puna e se ponha na cadeia. E se for o presidente da República o culpado -eu não acredito, mas por hipótese-, que o Senado o julgue por crime de responsabilidade e destitua-o do poder. E, se for um ministro, que caia, ou, se for funcionário público, que se demita."
A CPI "tem o dever de ir até o fim", e afirmou: "Que não tenhamos o receio de chegar aos palácios". Mais tarde, em entrevista, acrescentou: "Ir até o fim, no Brasil, com tanta corrupção, tem um nome: botar na cadeia".
Em artigo publicado na Folha, em 14 de abril, FHC voltou ao tema: "Que grave problema há em pedir-se a alguém que esclareça um procedimento administrativo? Ou em prestá-lo? Nenhum."
E completou: "Os que governam, já sabiam os romanos, são como a mulher de César, não basta serem honestos, precisam parecer que são honestos".
Nesse mesmo dia, Sarney atacou a CPI em discurso feito em Jales (SP): "E no momento em que se procura, através da violência verbal, através do terrorismo moral, desintegrar a sociedade democrática, nós estamos combatendo a democracia".
Em artigo publicado na Folha, em 21 de abril do mesmo ano, FHC criticou o governo, que ameaçava os senadores da CPI: "Quem não deve, não teme".
Hoje, porém, é Sarney que defende a criação de uma CPI, com argumentos semelhantes aos de FHC em 1988. E observa: "O presidente é aquilo que eu já fui e vai ser aquilo que eu sou: um ex-presidente da República".

Texto Anterior: Banespa precisa ser apurado, diz Quércia
Próximo Texto: Tribunal confirma fornecedora de urnas; Osborne diz no PR que trabalharia no Brasil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.