São Paulo, terça-feira, 19 de março de 1996
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Filósofo analisa didática anarquista

FERNANDO ROSSETI
DA REPORTAGEM LOCAL

O autodidatismo, nos moldes praticados pelos anarquistas no Brasil do início do século, seria uma saída, hoje, para a falta de oposição ao sistema capitalista pós-queda-do-muro-de-Berlim.
Os próprios ideais do anarquismo, seus princípios éticos, "ainda têm muita lenha para queimar", afirma o professor de filosofia da PUC-SP Antonio Valverde, 45.
Ele defendeu, na semana passada, a tese "Pedagogia Libertária e Autodidatismo", um mestrado tornado doutorado -nota dez com distinção e louvor-, que levou 17 anos entre o projeto inicial e a conclusão do texto de 321 páginas -sem contar a introdução.
A dissertação é um vasto apanhado de textos filosóficos de alguma forma relacionados ao anarquismo -alguns anteriores a Cristo-, e divide-se em três capítulos praticamente independentes.
No primeiro capítulo, "Anarquismo (quase) desconhecido", Valverde mostra como não só o anarquismo é pouco conhecido, como está envolto em preconceitos. "Tratam-no, fragmentariamente, como individualismo radical, negação do Estado (...) ou ainda como liberalismo carbonário, violência, desordem, utopia."
"Poucos concebem o que pode vir a ser mutualismo, federalismo, comunismo libertário ou uma sociedade pensada a partir do consumo e não da produção caótica."
O segundo capítulo , "Passagem pela Espanha", é um igualmente vasto apanhado da história do anarquismo na Espanha.
É no terceiro capítulo que Valverde aprofunda a "descoberta" de sua pesquisa, segundo a qual "a pedagogia libertária tem um braço -com horizonte político- que é o autodidatismo". A idéia é que a classe operária, para desenvolver propostas alternativas de sociedade, deve construir seu próprio conhecimento. "Autodidatismo não é o estudo solitário, mas o ensino mútuo: quem sabe mais ensina quem sabe menos", afirma.
(FR)

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