São Paulo, terça-feira, 19 de março de 1996
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Aleijadinho existiu, dizem especialistas

Professor rebate tese sobre escultor

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O professor de história da arte da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Marcos Hill, disse, em Belo Horizonte, que o pesquisador Dalton Sala está manipulando dados verdadeiros para tirar conclusões próprias.
O brasileiro Sala, que é especialista em história da arte, está escrevendo um livro em Portugal em que defende que Aleijadinho foi uma criação do regime de Getúlio Vargas para a construção da identidade nacional.
"Nunca ficou provado textualmente que uma pessoa chamada Antônio Francisco Lisboa, conhecida como Aleijadinho, tivesse feito todas as obras que lhe foram atribuídas", afirmou Sala em reportagem publicada na Folha.
Segundo Hill, não é segredo que existam poucos documentos a respeito de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, mas que a extensão da obra deixada por ele é prova suficiente da sua existência. "Do ponto de vista da história da arte, os documentos passam a ser suas próprias obras, que não deixam dúvidas de que Aleijadinho existiu."
Para Hill, estaria faltando capacidade a Sala para distinguir quais obras atribuídas a Aleijadinho foram feitas pelo mestre ou por artesãos da sua oficina, pois também outros grandes artistas do Barroco tiveram oficinas.
"Não foi Aleijadinho que esculpiu todas as peças do conjunto de Congonhas (MG), mas há, entre as esculturas, um anjo que jamais poderia ter sido feito por um aprendiz."
O professor da UFMG também discordou que Aleijadinho tenha sido uma criação do regime de Getúlio Vargas, embora não negue a apropriação política das descobertas feitas na época.
"Tudo que se desenvolvia na época ganhou um lado mítico, mas é inquestionável a qualidade dos intelectuais que estavam por trás disso, como Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Lúcio Costa", disse Hill.
O poeta Affonso Ávila, diretor da revista Barroco, afirmou que é uma "tolice" reavivar uma polêmica que ocorreu há meio século entre Rodrigo Mello Franco de Andrade e Augusto de Lima Jr.

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