São Paulo, terça-feira, 19 de março de 1996
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Sex Pistols anunciam nova turnê e disco

OTÁVIO DIAS

OTÁVIO DIAS; MARISA ADÁN GIL
DE LONDRES

O vocalista Johnny Rotten diz em entrevista coletiva que a causa comum para o retorno da banda é o dinheiro

O grupo de rock britânico Sex Pistols anunciou sua volta ontem em Londres. A turnê começa em 21 de junho próximo na Finlândia e inclui shows na Europa, Estados Unidos e Extremo Oriente.
É o retorno da banda responsável pela última grande revolução no rock'n'roll, detonada há vinte anos: o movimento punk, que cuspiu na idéia do rock como forma de arte e assumiu o lema "Do it Yourself' -qualquer um pode (e deve) tocar em uma banda.
Os quatro membros originais do grupo -Johnny Lydon/Rotten (vocais), Glen Matlock (baixo), Steve Jones (guitarra) e Paul Cook (bateria), todos na faixa dos 40 anos- reuniram-se ontem no Clube 100, um dos principais palcos do movimento punk, para divulgar o retorno.
"O Sex Pistols nunca terminou propriamente, simplesmente fracassou", disse o líder da banda, Johnny Rotten. "Tantas pessoas imitaram e contaminaram o que era puro e perfeito que chegou o momento de colocar as coisas em seus lugares", continuou.
Os boatos sobre a volta, no início do ano, provocaram polêmica na imprensa inglesa. O que levaria Rotten a retomar a "farsa" (como ele mesmo sempre se referiu aos Sex Pistols)?
Na entrevista, Rotten não escondeu o principal motivo do "revival". "Nós encontramos uma causa comum, o dinheiro", afirmou. "Não preciso realmente disso, mas um pouco mais, por que não? É um assalto à luz do dia", disse.
Em resposta à imprensa e aos ex-fãs que chamam a volta de "traição", Rotten comentou: "Toda vez que alguém diz que alguma coisa é sagrada e não deve ser tocada, eu quero tocá-la", disse.
Diante da inevitável pergunta sobre sua idade, respondeu: "Acabei de fazer 40 anos e não estou nada envergonhado. Nós nunca quisemos ser garotos."
Com o mesmo cabelo descolorido, cortado em estilo punk, mas alguns quilos a mais, Rotten disse adorar sua "barriga de cerveja". "Vocês também vão gostar".
O vocalista foi categórico ao comentar a ausência de Sid Vicious -que substituiu Matlock no baixo dos Sex Pistols em março de 1977 e morreu de overdose de heroína dois anos depois. "Essa é a formação original", disse. "Nós é que fizemos as canções."
Na entrevista coletiva, Rotten ofereceu-se para fazer um concerto beneficente em benefício da princesa Diana- que também estaria precisando de dinheiro. Ao ser perguntado sobre a possibilidade de o grupo tocar no Brasil, o líder respondeu: "Se me pagarem..."
O repertório do novo show deve incluir os principais hinos do movimento punk. Vão tocar "Anarchy in the UK" e "God Save the Queen" (que, mesmo censurada, chegou ao segundo lugar na parada britânica em 1977), além de outras faixas do clássico "Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols" (1977).
A volta vai render um álbum ao vivo, que deve ser lançado pela Virgin no final de julho. "Você pretende compor músicas novas?", perguntou um jornalista. "Não tenho planos", respondeu Rotten.
Apesar da calculada demonstração de irreverência de Rotten, com direito a arrotos no microfone, a atmosfera no Club 100 não tinha nada de punk: bandeiras da Inglaterra espalhavam-se por todos os lados, "drag queens" serviam cachorro-quente, músicas dos anos 40 e 50 saíam pelos auto-falantes.

Colaborou MARISA ADÁN GIL, da Reportagem Local

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