São Paulo, terça-feira, 19 de março de 1996 |
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LONGA TRAVESSIA O governo de Fernando Henrique Cardoso vem passando por um período de forte desgaste. Para além das duas derrotas políticas que lhe foram impostas por parlamentares, que, em tese, fazem parte da sua base de apoio, também no campo econômico seu prestígio é declinante. Nota-se nos meios empresariais uma certa irritação com as atuais políticas fiscais e monetárias. Há a sensação disseminada de que o Planalto age muito lentamente. As reformas caminham a passo de cágado; as privatizações não saem das pranchetas. Mesmo na sociedade em geral, onde ele ainda goza do prestígio de ter derrubado a inflação, sua popularidade também é afetada. Trata-se de um feito de 1994 e, desde então, muito pouco se avançou na área social. Não se trata, é óbvio, de uma crise institucional que ameace o seu governo ou os alicerces da política nacional. Agora que a estabilidade da moeda está em vias de ser consolidada, e os parlamentares deram-se conta de que as reformas têm mesmo de ser aprovadas, mas talvez não com a mesma urgência que o governo quer, outros cálculos políticos (dos quais não se exclui a fisiologia) começam a se sobrepor à análise mais fria dos interesses nacionais. Abre-se o espaço para uma oposição de centro que era antes contida com o argumento de tudo aceitar em nome do Real. A atitude sobranceira de FHC também vem contribuindo para esse desgaste. A forma como o presidente se comporta no cargo, tomando para si todas as responsabilidades, é popular quando os ventos sopram a favor. Mas, quando as coisas não vão bem, o responsável acaba sendo o próprio presidente, como se não houvesse ministros que respondem por suas pastas e deveriam tentar preservar mais a figura de FHC. O presidente Fernando Henrique vive um momento delicado. Está diante de uma encruzilhada. Ou continua com a sua política pragmático-conciliadora ou adota uma atitude mais firme, na tentativa de sinalizar a políticos, agentes econômicos e sociedade em geral que mantém o controle das rédeas e é capaz de aumentar a velocidade da carruagem para abreviar essa longa travessia. Próximo Texto: CAPITAIS SEM SEGREDOS Índice |
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