São Paulo, terça-feira, 19 de março de 1996
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Previdência dos Congressistas; Voto justo; Comemoração cínica; Carioquismo; Acidente dos Mamonas; Feminismo; Ensino religioso

Previdência dos Congressistas
"No dia 16/2, por telefone concedi uma extensa entrevista à Folha, versando sobre o IPC.
Para minha surpresa, na Folha de 17/2 li estarrecido o publicado. A reportagem coloca-me na situação de um parlamentar oportunista e nem de longe espelha o passado da minha vida pública ou do que penso a respeito do IPC. Pelo restabelecimento da verdade é que peço a publicação desta, conforme declarei na oportunidade à Folha.
Realmente não sou a favor da simples extinção do IPC, pelos motivos que se seguem:
1) O inciso IV do art. 38 da Constituição garante ao servidor civil, não reeleito, o seu retorno à atividade, computando-se o seu tempo de serviço parlamentar para todos os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento.
2) Os incisos I e II, do parágrafo 8º, do art. 14 da Constituição Federal, obriga o militar que ainda não tenha completado dez anos de serviço a demitir-se para candidatar-se; caso tenha mais de dez anos, o militar eleito é transferido para a inatividade e passa a perceber proventos proporcionais ao seu tempo de serviço (no meu caso, 17/30 de capitão, o que equivale a R$ 1.300 mensais).
Do exposto sou favorável à extinção do IPC desde que o tratamento constitucional destinado aos militares seja o mesmo dos servidores civis.
Quanto à citação de que eu quero cargos para extinguir o IPC, a repórter esqueceu-se de citar o que lhe disse à época: 'Aqueles que indicam diretores de estatais ou de bancos públicos, manipulam o orçamento etc... não precisam do IPC pois têm IPS (Instituto de Previdência na Suíça), podendo, então, abrir mão de qualquer garantia previdenciária. Como não tenho o que eles têm, principalmente o caráter, não poderia ser favorável à extinção simples dessa previdência, aceitando, contudo, modificá-la'."
Jair Bolsonaro, deputado federal pelo PPB-RJ (Brasília, DF)

Resposta da jornalista Marta Salomon - O deputado Jair Bolsonaro telefonou para a Redação para informar que não conseguiria sobreviver com uma aposentadoria de R$ 1.300, que já recebe hoje do Exército. Ele só seria favorável à extinção do IPC se pudesse, em suas palavras, agir da mesma forma que o presidente da Câmara ou líderes de partidos, que, segundo Bolsonaro, indicam diretores de estatais e liberam recursos do orçamento.

Voto justo
"O Superior Tribunal de Justiça deve ser cumprimentado efusivamente pela decisão de libertar os membros do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.
Esse voto faz justiça e expõe com clareza o arbítrio flagrante das prisões de Diolinda Alves de Souza e seus companheiros."
Paulo Sérgio Pinheiro e Fernando Millan, da Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos (São Paulo, SP)

Comemoração cínica
"Os editorialistas e articulistas da Folha teimam dolosamente em tomar os interesses do país como se fossem os interesses exclusivos do presidente.
Diariamente eles comemoram, irresponsável e cinicamente, as derrotas das propostas do governo no Congresso destinadas a reformar o Estado, como se elas constituíssem questões do interesse exclusivo e pessoal do presidente.
Chegam a elogiar o Congresso constituído, como é do domínio público, em sua maioria, por parlamentares fisiológicos defensores de interesses corporativos e principalmente das suas reeleições."
Antonio de Araujo Chaves (Campo Grande, MS)

Carioquismo
"É no mínimo antidemocrático esta Folha abrir espaços para constantes agressões à gente da Bahia e sua cultura, como essa última desse Carlos H. Cony ('Bananas, samba e mulher', 24/2).
A Folha está cada vez mais 'acariocada', o que não é bom. Que o diga a TV Manchete que foi extinta na Bahia face aos ridículos índices de audiência que aqui conseguia com o excessivo 'carioquês' da sua programação."
Luis Gabriel A. Brandão (Salvador, BA)

Acidente dos Mamonas
"O artigo 'A morte dos Mamonas não foi culpa do piloto', além de surpreendentemente bem informado (a grande imprensa, infelizmente, só costuma falar besteira sobre aviação), demonstrou muita sensibilidade e coragem."
Pedro Goldenstein (São Paulo, SP)

"Barbara Gancia: parabéns pela coluna de 6/3. Só gostaria de acrescentar que o 'erro' do comandante Jorge e do co-piloto Alberto não começou durante a aproximação (altitude e velocidade acima da recomendada e fora do eixo da pista) nem nos 20 ou 30 minutos que antecederam a tragédia, o 'erro' começou há alguns anos, quando ambos iniciaram seus cursos de piloto privado numa das muitas 'escolas de formação de pilotos' espalhadas por estas terras tapuias."
Ody Parreira (Londrina, PR)

"Me desagradou muito a coluna de Barbara Gancia na qual ela é tão veemente em inocentar o piloto pelo ocorrido com o grupo Mamonas Assassinas.
Devo lembrá-la que o 'maldito morro' da Serra da Cantareira está naquele mesmo lugar há milhões de anos e que o mesmo não apareceu na frente do piloto de repente. A desastrada manobra quem fez foi o piloto, não o avião, uma vez que até o último contato com a torre de Cumbica não havia sido denunciada nenhuma falha no aparelho."
Laura Apinhanese (São Paulo, SP)

Feminismo
"Estou em dúvida: a Folha discriminou as manifestações femininas sobre o excelente artigo 'A mulher de quatro' ou o sr. Josias de Souza (21/2) não conseguiu seu intento -incitar a mulher brasileira, a fim de combater as judas do feminismo?
Senhor Otavio Frias Filho, sua entrevista ('Roda Viva') ratifica as mensagens de seus textos. É consolador perceber que não estamos sós na constatação da triste realidade em que vivemos e na vontade determinada de melhorá-la.
Se a Folha está a serviço do Brasil, por que abrir espaço e perpetuar idéias da mulher sem classe?
Nota zero para 'Saia Justa' e afins. Que tal valorizar as seções com depoimentos femininos que reforcem a luta pela afirmação da mulher, ser humano pensante e não objeto descartável?
Maria Inês de Araújo Prado (São João da Boa Vista, SP)

Ensino religioso
"Venho manifestar-me a respeito de artigo do filósofo Roberto Romano (4/3), pessoa por quem tenho admiração, para discordar de seu agressivo posicionamento crítico em relação à Igreja Católica, principalmente de sua contundência ao criticar o ensino religioso em escolas públicas. Não vejo razão para confundir o cumprimento da disposição constitucional a respeito da matéria com privilégio disputado por hierarcas."
José Roberto Lino Machado (São Paulo, SP)

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