São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996 |
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Erros políticos dos tucanos ajudam o PFL
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
A maior fidelidade nas votações de interesse de FHC no Congresso, as iniciativas mais rápidas nas articulações no Senado e na Câmara, e a preferência pelos bastidores em vez de declarações bombásticas pesam a favor dos pefelistas. Exemplo disso foi a dupla insatisfação de lideranças do PSDB, ontem, ao ler os jornais. Em todos, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, que não exerce nenhum mandato, dizia ser imprescindível votar esta semana a Previdência. Aos ouvidos tucanos, as declarações do pefelista soaram como se ele fosse o articulador político do governo. Somou-se a isso o fato de FHC tê-lo convidado para acompanhar, anteontem à noite no Alvorada, sua reunião com o PPB. O convite de Fernando Henrique ao presidente do PSDB, Artur da Távola, não diminuiu o desconforto. O senador tucano é alvo de críticas dos próprios companheiros pela condução do partido. O outro motivo da irritação tucana foi a declaração de Sérgio Motta, dada à Folha em Nova York, de que a democracia brasileira estará ameaçada se a inflação voltar. Ele associou o sucesso do real à aprovação das reformas. Ao dar tanta importância à votação da Previdência, dizem aliados de FHC, o ministro elevou a cotação dos partidos que estão negociando com o governo. "Agora eles vão cobrar mais caro pelo apoio", diz um deputado do PFL. Ontem a bancada do PPB na Câmara decidiu fechar questão contra a emenda da Previdência enquanto não terminar sua negociação por um ministério. Deputados tucanos reclamam da falta de iniciativa política do partido e do governo. Para eles, o ministro é quem pode preencher esse vácuo. Mas as resistências a que venha a desempenhar tal papel aumentam toda vez que ele faz uma declaração como a de anteontem. Motta não foi o primeiro amigo tucano de FHC a jogar lenha na fogueira durante viagens ao exterior. No Japão, o governador Tasso Jereissati (PSDB-CE) fez ataques a Sarney que elevaram a temperatura no Senado e aumentaram as chances da CPI dos Bancos. Na ocasião, até o senador incendiário Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) aproveitou para bancar o bombeiro. O PFL segue na linha panos-quentes. Ao saber que o presidente pretendia falar ontem na TV, os caciques do partido trataram logo de aconselhá-lo: fale da importância da Previdência, mas não mencione a CPI. No momento, PSDB e PFL também divergem sobre as alianças do no Congresso. Enquanto os tucanos querem atrair o PPB para substituir o infiel PMDB, os pefelistas dizem que é preciso o apoio de ambos -porque ele nunca será integral. As rivalidades, entretanto, não se esgotam no campo parlamentar. Os pefelistas estão advogando a tese da reeleição só para presidente, como uma condição implícita para apoiar FHC na disputa por mais um mandato. A razão do PFL é pragmática. O partido só governa dois Estados, contra seis do PSDB e nove do PMDB. Sem reeleição para os atuais governadores, o PFL teria mais chances de eleger seus candidatos e dividir o poder estadual com tucanos e peemedebistas. LEIA MAIS sobre a crise do governo às págs. 1-8, 1-10 e 1-11 Texto Anterior: Procurador faz denúncia contra Ibsen Próximo Texto: Malan divulga ajuda ao BB Índice |
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