São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-diretor do UBP é investigado na Suíça

CLAUDINÊ GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE GENEBRA

A acusão de lavagem de dinheiro contra executivos do Union Bancaire Privée (UBP), sócio do Excel na compra do Econômico, está sendo investigada também pela Justiça suíça, a pedido dos Estados Unidos. Até agora, o caso vinha sendo apurado só nos EUA.
A informação foi dada à Folha pelo presidente do Conselho de Administração do UBP, Edgard de Picciotto, em entrevista exclusiva.
A seguir, trechos da entrevista.
*
Folha - O UBP está mesmo sendo investigado por lavagem de dólares, depois da prisão, em Miami, de dois executivos do banco?
Picciotto - Primeiramente, não são dois funcionários, mas apenas um, o sr. Jean-Jacques Handali. Ele violou todas as regras internas do banco. O UBP nunca foi colocado em questão. A outra pessoa detida, Jeckiel Valero, era um gerente de investimentos autônomo, sem vínculo empregatício com o UBP.
Folha - Os jornais também falaram de um terceiro funcionário, Michael Ley, que estaria foragido.
Picciotto - O sr. Ley não está foragido. Está em Genebra. Ele era assistente do sr. Handali e está suspenso de suas funções há 18 meses.
Folha - Mas os EUA pediram ajuda judiciária à Suíça e a Procuradoria de Genebra abriu inquérito.
Picciotto - É verdade, mas não há nada de excepcional nisso. Toda vez que há um caso criminal, a colaboração judiciária é solicitada. Isso já faz parte dos hábitos do setor bancário na Suíça.
Folha - Até dinheiro fraudado do INSS do Rio veio parar no UBP.
Picciotto - Realmente isso ocorreu. Em 1991, esse dinheiro entrou na conta de um brasileiro. Houve inquérito na Justiça e nos entregamos os documentos solicitados.
Folha - É realmente impossível controlar a origem dos depósitos e a identidade dos clientes?
Picciotto - As autoridades suíças competentes introduziram regras muito estritas em 1992. Hoje todos os bancos as seguem. Temos um sistema que detecta o que chamamos de "transações insólitas".
Folha - O ex-chefe da Guarda civil espanhola, Luis Roldan, implicado num grande escândalo, também era cliente do UBP.
Picciotto - Em março de 1990, compramos o banco TDB American Express e entre a nova massa de clientes estava o sr. Roldan.
Folha - Todos esses casos ocorreram ao mesmo tempo. Por quê?
Picciotto - Acho que houve coincidência.
Folha - O deputado federal Jean Ziegler apresentou moção ao governo pelo fechamento do UBP. Como o sr. reagiu?
Picciotto - Nós vivemos num país democrático, e o deputado pode fazer as perguntas que quiser.
Folha - Por que o Econômico interessa ao UBP?
Picciotto - Não é só o Econômico que visamos. O Brasil está para a América Latina como os Estados Unidos para a América do Norte. Folha - Os bancos brasileiros tinham mais lucro na época da inflação e o sr. elogia o fim da inflação?
Picciotto - Nós preferimos participar de uma economia estável mas em crescimento real.
Folha - O sr. tem outros projetos no Brasil além do Econômico?
Picciotto - Nossa participação no Excel (US$ 70 milhões) representa um investimento maior. É um passo importante numa perspectiva econômica a longo prazo.

Texto Anterior: Crédito do Proer ao Excel depende do CMN
Próximo Texto: Sant'Anna vai continuar preso em casa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.