São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Motta atrapalha reformas, diz Inocêncio

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), disse ontem que as declarações do ministro Sérgio Motta (Comunicações) atrapalham a aprovação das reformas: "Fiquei estarrecido", disse.
Sérgio Motta disse anteontem à Folha, nos EUA, que uma eventual instabilidade do Plano Real pode comprometer a democracia.
O próprio presidente Fernando Henrique Cardoso discordou da análise de Motta. Sérgio Amaral, porta-voz da Presidência, disse ontem que o presidente considera que o Real só foi possível porque há democracia. Segundo ele, o presidente não vê ameaça à democracia se o Real sofrer abalos.
Inocêncio Oliveira afirmou que considerou "uma precipitação" as declarações de Motta. "Não tem clima para isso. Estamos vivendo uma estabilidade política. Não vejo motivo para uma coisa estapafúrdia como esta", afirmou.
O líder do PFL teme que as declarações dificultem ainda mais as negociações para aprovar a reforma da Previdência: "Isso atrapalha. Num momento em que estamos votando a reforma, pode passar que é uma ameaça ao poder".
O presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP), afirmou ontem que não acredita no risco de volta do autoritarismo.
"Não acredito. A democracia está consolidada. Não será uma CPI que vai afetar. Não acredito nesta previsão de catástrofe. Se cassamos deputados, senadores e até um presidente, por que não se pode investigar banqueiros envolvidos em fraudes", contestou Sarney.
O presidente da Câmara dos Deputados, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), informou, por meio de sua assessoria, que não daria declarações sobre o assunto.
O deputado Vicente Cascione (PTB-SP) disse que ouviu declarações semelhantes do próprio FHC no fim de outubro do ano passado.
Num encontro no Palácio da Alvorada, FHC teria dito que, como sociólogo, via a possibilidade de um golpe na linha do horizonte.
O líder do PMDB no Senado, Jáder Barbalho (PA), disse que não acredita na veracidades das declarações. "Custo a acreditar que o ministro tenha dado essa entrevista. Me recuso. Ainda se fosse o general Sylvio Frota..."
Os líderes partidários que estiveram reunidos com FHC, no Palácio do Planalto, no final da manhã de ontem, afirmaram que trataram apenas da Previdência.
O líder do PSDB, José Aníbal (SP), disse que o desafio do atual governo é executar as reformas dentro do processo democrático.
Ele afirmou, porém, que as maiores reformas aconteceram justamente em regimes autoritários. "No Brasil, sempre se fez reformas em regimes fechados. Foi assim em 37 e 64. O nosso desafio é fazer com democracia", disse.
A líder do PT na Câmara, Sandra Starling (MG), ficou surpresa com as declarações de Motta. "Nossa! Continuam ameaçando? Parece ato falho. Será que é este o desejo?"

Texto Anterior: Tempo para servidor aumenta
Próximo Texto: REPERCUSSÃO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.