São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
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Prefeitura que não vê e não vem

ALDAÍZA SPOSATI

A capacidade de se livrar facilmente dos problemas desta cidade, sem apresentar solução adequada, parece ser a marca registrada da atual administração.
As chuvas ganharam capas e manchetes dos jornais devido aos seus estragos. O principal debate ficou no jogo de competências entre Estado e prefeitura. Quanto aos desabrigados, também ocorre o chamado jogo de empurra da burocracia municipal.
Ocorre um desentendimento histórico entre as secretarias municipais de Habitação, Bem Estar Social e das Administrações Regionais. Mas o princípio que orienta a ação é comum: quanto pior, melhor; o objetivo é o de precarizar ao máximo as condições dos abrigos para que as pessoas busquem destinos ignorados, por conta própria.
Exemplo claro desse desmando é o que ocorre com o abrigo da rua General Mendes, na Vila Maria. Seis meses atrás uma operação do Contru, zelando pela segurança do viaduto, transferiu para esse local famílias dos baixos do Viaduto Milton Tavares, do Pontilhão Tatuapé e da Chácara Bela Vista. Incrível é o fato de que foram transferidas 108 famílias para uma antiga biblioteca que havia sido interditada por questões de segurança.
Para efetivar a remoção, a prefeitura garantiu que a permanência no abrigo seria provisória. Prometeu também o assentamento das famílias em apartamentos do projeto Cingapura. Nada disso aconteceu.
Em visita ao local pude constatar uma perversa realidade. A falta de segurança é total. A população, despejada e esquecida ali, convive com condições insalubres, ao lado de pulgas, ratos e baratas.
Uma criança morreu vítima de meningite, há casos de hepatite e pneumonia. As crianças que estão com sarna e frequentavam creches ou escolas tiveram que interromper suas atividades. O local é abafadíssimo, o que propicia a propagação de doenças. Os banheiros exalam um forte odor que pode ser sentido a 50 m de distância.
Denunciei esse caos à imprensa, encaminhei também uma representação ao Ministério Público e um ofício ao secretário da Família e Bem Estar Social. A secretaria se pronuncia pelos jornais, dizendo que a culpa desta situação é dos moradores, que não souberam cuidar do local.
Quanto às doenças e segurança, a secretaria afirma que, embora a realidade prove o contrário, tomou as medidas necessárias.
Pergunta-se: como é possível responder com tanto descaso, sem sequer mencionar uma iniciativa?
O caminho mais fácil, e pelo visto o adotado, é exatamente este: se eximir das responsabilidades.

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