São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rio não tem condição de sediar Olimpíada

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Antigamente, costumavam esgotar todos os ingressos para o GP de Fórmula 1, no circuito de Jacarepaguá, no Rio. No domingo, porém, o babado foi outro. Por culpa dos descabidos preços das entradas, que chegavam a custar R$ 180 paus, as arquibancadas da primeira prova tapuia de F-Indy ficaram semi-abandonadas.
Eu pergunto: se o circuito estava praticamente vazio, porque, depois da corrida, levei três horas para ir de Jacarepaguá ao Leblon? O prefeito Maluf que fique de olho. Se está correta sua tese de que engarrafamento é sinal de progresso, a economia carioca deve estar indo de vento em popa.
O Rio de Janeiro continua lindo, maravilhoso, mas não tem a menor condição de sediar uma Olimpíada.
No sábado, tomei a precaução de reservar um táxi para às 7h30 do dia seguinte, a fim de chegar pontualmente ao ponto de encontro de onde um carro da Folha sairia rumo à Jacarepaguá. Passados 12 minutos do horário combinado, telefonei para a central. Me informaram curto e grosso: "Aqui não conshta ninhum pidjido para a dona Barrrbara".
E se você é daqueles que fica tiririca com a balbúrdia de jet-skis, teria se transformado em uma fábrica de bílis com a barulheira promovida pelos helicópteros que levavam e traziam VIPs da pista.
No sábado, no terraço da casa de amigos no topo de um morro na Glória, não consegui trocar palavra. O barulho das hélices não permitia.
Soube que assim que a prova de Indy terminou, a grãfinada tentou a todo custo furar a fila organizada previamente pelo Serac -espécie de filial do DAC que coordena operações de táxi-aéreo como a da Indy.
E os pilotos, em vez de chiar, faziam de tudo para atender ao capricho dos ilustres passageiros. A Helicopter Association International dos EUA, que reúne fabricantes e profissionais, instituiu o "Fly Friendly", organização que tenta amenizar os problemas causados por helicópteros junto ao meio ambiente.
No Rio, o Fly Friendly seria um fiasco. Ah, não? Então o que dizer da socialite carioca, que reclamou em reportagem recente por não poder pousar o helicóptero no jardim de sua casa? Ela não tem vizinhos? E o conquistador carioca, que na mesma reportagem afirmava ter jogado do helicóptero, pétalas de rosas sobre o prédio da namorada? A pretendida e os vizinhos são todos surdos?

Texto Anterior: Gerenciamento será privado
Próximo Texto: Alegria, alegria; Mudança de hábito; Socorro!
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.