São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
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Omissão política ajuda organizadas

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Militar (PM) de São Paulo culpa os políticos e a Federação Paulista de Futebol (FPF) pelo ressurgimento explícito das torcidas organizadas.
Nos últimos dois finais de semana, clássicos do futebol paulista realizados no interior tiveram presença ativa das organizadas, que estão teoricamente banidas.
Na partida entre São Paulo e Corinthians, em Ribeirão Preto, a torcida corintiana Camisa 12 chegou a estender uma faixa com a inscrição: "A Camisa 12 sempre estará com o Corinthians".
Faixas, bandeiras e camisas das organizadas estão proibidas.
No jogo entre São Paulo e Portuguesa, em Limeira, houve briga de torcedores, supostamente membros das organizadas.
A Gaviões da Fiel confirmou à reportagem da Folha que as torcidas continuam indo aos estádios.
O policiamento
"A situação em São Paulo está sob controle. Mas a polícia no interior tem dificuldades. Em algumas cidades, houve até venda de cerveja no estádio", disse o coronel da PM Carlos Alberto de Camargo.
Mas, segundo Camargo, as torcidas organizadas esboçaram uma reação baseada em dois pontos: 1. obter o apoio de políticos, oferecendo-se como base eleitoral; 2. criar espaços no interior, para dali voltar a São Paulo.
"É preciso evitar marcar clássicos no interior. As torcidas, que estão sendo reeducadas em São Paulo, matam aula aqui para ir fazer bagunça no interior", disse.
O projeto
Ele criticou ainda a omissão da Câmara Municipal de São Paulo na aprovação do projeto antiviolência do vereador Faria Lima (PPB).
O projeto, elaborado em colaboração com a PM, é baseado na lei argentina e tem o apoio da FPF.
"Hoje, um sujeito briga no estádio e só pode ser enquadrado por rixa. Ora, ele nem sabe como se escreve rixa. Sabe que, se for detido, acaba sendo solto em seguida. A legislação específica vai permitir até banir esse torcedor", diz Camargo.
Há ainda um projeto similar, do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), tramitando em marcha lenta no Congresso Nacional.
"Está faltando lei, trabalho dos vereadores. E falta também disciplina na atuação das forças políticas municipais", disse Camargo.
A morosidade da Câmara Municipal também foi criticada por Eduardo José Farah, presidente da FPF. "Os vereadores não podem misturar ano eleitoral com a segurança das pessoas", afirmou.
Faria Lima atribuiu o atraso na votação do projeto a políticos de vários partidos, inclusive o seu, com base eleitoral nas torcidas.
Ele culpou os vereadores Gilson Barreto, Alberto Hiar, Éder Jofre (PSDB) e Antônio Paiva (PFL) pela falta de quórum nas sessões que poderiam ter votado o projeto.
A Folha procurou esses vereadores, mas não os encontrou em seus gabinetes ontem.

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