São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
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Portuguesa tem nas mãos o fogo da vida

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Qual o segredo, afinal, dessa Lusa que não larga o calcanhar do super-Palmeiras, capaz de despachar em menos de quatro dias o Corinthians e o São Paulo, de enfiada?
Além do óbvio -é praticamente a mesma equipe que já havia feito excelente campanha na temporada passada, sob o comando de Candinho, o que lhe confere inusitado conjunto neste início de ano-, tem nas mãos o fogo da vida, parodiando Lorca.
Isto é: no futebol de hoje, quem não tiver dois laterais -um destro, outro canhoto- de qualidade (e aqui entram técnica, velocidade e resistência) está morto, ou quase. E é exatamente isso que a discreta Lusa tem em comum com o exuberante Palestra: laterais. Aliás, pela direita, na quantidade, leva até certa vantagem, posto que o reserva Ayupe em comparação ao reserva Gustavo é muito mais perigoso, pela potência de seus chutes.
Nesse aspecto, aliás, a Portuguesa chega a esnobar, dando-se ao luxo de manter o experiente Cássio na esquerda, deslocando Zé Roberto como segundo volante, na esquerda.
Ganha, assim, muito na qualidade do passe e das investidas do meio-campo, e explora melhor os lados do campo, que, todos sabem, é o caminho mais curto e desimpedido de se chegar à vitória, num futebol que aboliu os pontas.
Some-se a isso muita aplicação por parte de todos, sobretudo Zinho, um jogador precioso pelas múltiplas funções executadas, e temos um vice-líder com pinta de líder.
*
Tenho tentado explicar o fracasso da atual diretoria tricolor pela lógica do Morumbi em ruínas. Sem um patrocinador do nível de uma Parmalat, por exemplo, perdeu o São Paulo sua grande fonte de renda, com o Morumbi vetado para os grandes jogos e eventos do tipo shows de rock e de evangélicos de vários matizes.
Mas há decisões que margeiam essa questão principal e que me conduzem à perplexidade. Como, por exemplo, o troca-troca com o Cruzeiro, que mandou para a Toca Aílton, Gilmar, Vítor e Donizete, para que o Morumbi recebesse Serginho e Beletti. Serginho, nas raras vezes em que vi em ação, me impressionou pela técnica esmerada: canhoto, habilidoso, dono de chute forte. Mas esse rapaz não se firmou nem no Flamengo, muito menos no Cruzeiro. E isso deve dizer alguma coisa. Já Beletti é um jovem que mereceu convocação para a seleção, mas, como tantos outros volantes, nunca revelou nenhum talento especial. Resumindo: não é melhor do que, por exemplo, Donizete, pelo menos mais experiente e combativo.
Em contrapartida, Gilmar é um zagueiro de recursos raros neste nosso futebol tão carente de bons zagueiros. Prata da casa, vinha sofrendo há tempos uma injusta perseguição no Morumbi.
Aílton, que, ainda outro dia, custou os olhos da cara ao São Paulo. Vai, praticamente de graça, para o Cruzeiro.
Menos do que os craques que deixou de trazer, o problema tricolor tem sido os craques que perdeu nestes últimos tempos. Imaginem o São Paulo com Cafu, Muller e Elivélton. E o Palestra sem esses três craques. Desse jeito, nem com o Morumbi em pé, e reluzindo de novo, há salvação.

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