São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
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Redford evita chantagem e mostra dor em família

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Gente como a Gente" (Globo, 1h10) não é um exercício de chantagem sobre os sentimentos do público, como "Kramer vs. Kramer", que havia vencido as principais categorias do Oscar em 1979.
No ano seguinte, "Gente como a Gente" emplacou como melhor filme e direção. Nada mau para um diretor estreante como Robert Redford.
Existe ali, para começar, um jovem (Timothy Hutton) que se julga responsável pela morte do irmão.
Existe também uma mãe que não se conforma com essa morte e não faz nada para tirar dos ombros do filho a carga pelo acontecido.
Existe, ainda, um desarranjo familiar geral. Todo um mundo concebido para existir de uma determinada maneira sucumbe à desorganização gerada -no fim das contas- pelo acaso.
Não é muito, embora também não seja pouco. E Donald Sutherland, no papel central, como o pai, tem uma interpretação cheia de dignidade.
Mas o cinema de Robert Redford tem se pautado por uma limitação grave. Ele busca roteiros sólidos (como o recente "Quiz Show") e dirige bem seus atores.
Existe, porém, uma sombra que paira sobre esse cinema, e sobre "Gente como a Gente". A evolução raramente prevê quebras, surpresas, rupturas.
Algo é soturnamente previsível em tudo isso, de algum modo já visitado, sem audácia.
Isso não acontece, aparentemente, porque Redford trabalha em meios-tons, com discrição. Mas porque se empenha em mostrar fidelidade aos cânones do bem filmar. Isso é o que garante seu lugar na indústria. Isso também é o que o limita.
(IA)

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