São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996 |
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Mostra explora relação entre arte e cinema
OTÁVIO DIAS
Entre as dezenas de eventos programados para os próximos meses, um dos destaques é a exposição "Spellbound - Arte e Cinema", até 6 de maio próximo, na galeria Hayward, em Londres. Dez cineastas e artistas plásticos foram convidados a desenvolver trabalhos que reflitam a relação entre as artes plásticas e o cinema. A exibição inclui instalações de três cineastas: Ridley Scott, Peter Greenaway e Terry Gilliam. Na primeira sala, idealizada pelo jovem artista plástico escocês Douglas Gordon, 28, o clássico de Alfred Hitchcock, "Psicose", é exibido a uma velocidade de dois fotogramas por segundo. A projeção do filme todo dura 24 horas. Ridley Scott, mostra, em quatro monitores, o roteiro original e os desenhos cena a cena de dois de seus principais filmes, "Alien" (79) e "Blade Runner" (81). A relação entre artes plásticas e cinema surge na identificação dos desenhos de Scott com a obra de Francis Bacon, um dos mais importantes pintores britânicos do século 20. Já a instalação de Terry Gilliam, ex-membro do grupo britânico Monty Python e diretor de "Brazil" (1985) e "As Aventuras do Barão de Munchausen" (1989), induz a uma experiência mais interativa. Seu novo filme, "Os 12 Macacos", é projetado em uma tela. No entanto, um arquivo de metal de 4,5m de largura por 6m de altura, com cem gavetas, impede o público de assistir o filme em sua totalidade. O espectador é levado, então, a investigar o conteúdo das gavetas do arquivo. Ao abri-las, fragmentos da ação são revelados. "Desde que fiz 'Brazil', sou obcecado por arquivos", disse Gilliam, por ocasião da abertura da exposição. "Adoro seu sentido de ordem. Eles são a face pública da burocracia e tentam edificar e controlar o universo." O ponto alto da exibição é, sem dúvida, a instalação de Peter Greenaway, cineasta cujos trabalhos, entre eles "O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante" (1989), são claramente influenciados pelas artes plásticas. Em uma imensa câmara escura, centenas de objetos de cena, agrupados por temas, são colocados lado a lado. Refletores iluminam ora um ora outro grupo de objetos, que ganham vida com o auxílio da trilha sonora. Ao fundo, cinco atores observam o público presos em grandes caixas de vidro. Escolhidos por apresentar características comuns, os atores são substituídos a cada dia. "Ainda acho estranha a descrição de meu trabalho como diretor de cinema", diz Greenaway, que estudou artes plásticas. "Acho que meus filmes são envolvidos por circunstâncias estéticas muito mais relacionadas à pintura, ou ao ambiente de uma galeria de arte, do que ao cinema." A exposição "Spellbound - Arte e Cinema" vai até 6 de maio. Texto Anterior: "Baianocracia" impõe disciplina à burguesia Próximo Texto: Cisne Negro interpreta folclore do Brasil Índice |
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