São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
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Mostra explora relação entre arte e cinema

OTÁVIO DIAS
DE LONDRES

O mundo comemorou os cem anos de cinema em 1995. No Reino Unido, entretanto, onde a primeira exibição pública de um filme aconteceu em 1896, o centenário só está sendo lembrado agora.
Entre as dezenas de eventos programados para os próximos meses, um dos destaques é a exposição "Spellbound - Arte e Cinema", até 6 de maio próximo, na galeria Hayward, em Londres.
Dez cineastas e artistas plásticos foram convidados a desenvolver trabalhos que reflitam a relação entre as artes plásticas e o cinema. A exibição inclui instalações de três cineastas: Ridley Scott, Peter Greenaway e Terry Gilliam.
Na primeira sala, idealizada pelo jovem artista plástico escocês Douglas Gordon, 28, o clássico de Alfred Hitchcock, "Psicose", é exibido a uma velocidade de dois fotogramas por segundo. A projeção do filme todo dura 24 horas.
Ridley Scott, mostra, em quatro monitores, o roteiro original e os desenhos cena a cena de dois de seus principais filmes, "Alien" (79) e "Blade Runner" (81).
A relação entre artes plásticas e cinema surge na identificação dos desenhos de Scott com a obra de Francis Bacon, um dos mais importantes pintores britânicos do século 20.
Já a instalação de Terry Gilliam, ex-membro do grupo britânico Monty Python e diretor de "Brazil" (1985) e "As Aventuras do Barão de Munchausen" (1989), induz a uma experiência mais interativa.
Seu novo filme, "Os 12 Macacos", é projetado em uma tela. No entanto, um arquivo de metal de 4,5m de largura por 6m de altura, com cem gavetas, impede o público de assistir o filme em sua totalidade.
O espectador é levado, então, a investigar o conteúdo das gavetas do arquivo. Ao abri-las, fragmentos da ação são revelados.
"Desde que fiz 'Brazil', sou obcecado por arquivos", disse Gilliam, por ocasião da abertura da exposição. "Adoro seu sentido de ordem. Eles são a face pública da burocracia e tentam edificar e controlar o universo."
O ponto alto da exibição é, sem dúvida, a instalação de Peter Greenaway, cineasta cujos trabalhos, entre eles "O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante" (1989), são claramente influenciados pelas artes plásticas.
Em uma imensa câmara escura, centenas de objetos de cena, agrupados por temas, são colocados lado a lado. Refletores iluminam ora um ora outro grupo de objetos, que ganham vida com o auxílio da trilha sonora.
Ao fundo, cinco atores observam o público presos em grandes caixas de vidro. Escolhidos por apresentar características comuns, os atores são substituídos a cada dia.
"Ainda acho estranha a descrição de meu trabalho como diretor de cinema", diz Greenaway, que estudou artes plásticas.
"Acho que meus filmes são envolvidos por circunstâncias estéticas muito mais relacionadas à pintura, ou ao ambiente de uma galeria de arte, do que ao cinema."
A exposição "Spellbound - Arte e Cinema" vai até 6 de maio.

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