São Paulo, quinta-feira, 21 de março de 1996 |
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Os dramas do spa
MOACYR SCLIAR Uma temporada no spa emagrece. Com uma pequena condição -que, como descobriu Joselina da Silva, faz toda a diferença: é preciso seguir uma dieta. Ou seja: é preciso dar adeus para pratos fartos, para sobremesas gigantescas, para tortas imensas. E é aí que uma temporada no spa fica parecendo, para algumas pessoas, o equivalente da temporada no inferno de que falava Rimbaud (que, no entanto, viveu na era pré-spa).Segundo a notícia, Jô obtinha comida de uma enfermeira, que foi despedida. Jô nega, mas a verdade é que há hóspedes de spa capazes de qualquer coisa para complementar a dieta à qual -por livre e espontânea vontade- aderiram. Há várias histórias que o comprovam. Minha favorita é a do papagaio, ocorrida com uma senhora não tão obesa quanto Jô, que é conhecida como "gorda Jô" (a propósito: este apelido não será uma tentativa de concorrência ao Jô Soares?), mas igualmente determinada. Por insistência da família, ela internou-se num spa para uma dieta. Quando lhe serviram a primeira refeição, ela sentiu-se injuriada: isto aí para mim é couvert, bradou, acrescentando: - Vocês querem me matar de fome! Nos dias que se seguiram, ela tentou de tudo para reforçar a modesta ração. Todas as enfermeiras (e serviçais, motoristas e até a telefonista) foram devidamente sondadas, com propostas tão cativantes quanto indecorosas: oferecia dois dólares por uma banana, cinco dólares por um chocolate. Ou porque os salários eram bons e não necessitassem complementação, ou por razões morais -ninguém aceitou. E a senhora for forçada a pensar em outra coisa. Foi aí que o papagaio lhe chamou a atenção. Era uma bela e vistosa ave, que, como se esperaria de um papagaio de spa, a todo o instante bradava a palavra mágica: "Dieta! Dieta!" Essa energia toda vinha, como a senhora logo descobriu, de um abundante fornecimento de comida. Banana, por exemplo, nunca faltava na gaiola. Mas passou a faltar. Porque a senhora levantava-se de madrugada e, tão logo a servente deixava comida na gaiola do papagaio, ela a surrupiava -e aliviava a fome.. Seu estado de espírito melhorou tanto que passou a imitar a ave: "Dieta! Dieta!" E tudo poderia continuar assim por longo tempo -mas quem conhece anedotas, sabe que papagaios são inconfiáveis. Uma manhã, quando a pensionista estava prestes a assaltar a gaiola, ele pôs a boca no mundo, gritando a única palavra que conhecia, além de "dieta": - Pega! Pega! Pegaram a transgressora com a boca na botija (ou na banana). Ela continua obesa, e a família está procurando outro spa. Que não tenha papagaio, claro. Texto Anterior: Veneno de aranha é risco para os rins Próximo Texto: O neopentecostalismo Índice |
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