São Paulo, quinta-feira, 21 de março de 1996
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Exposição avalia produção japonesa

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

O Centro Georges Pompidou, em Paris, exibe até o dia 29 de abril uma gigantesca mostra dedicada ao design japonês produzido nos últimos 45 anos. "Design Japonais - 1950-1995" ocupa dois andares do museu com cerca de 300 objetos.
Logo na entrada, o visitante se depara com a banqueta "Butterfly", de 1956, a peça mais conhecida de Sori Yanagi (veja foto nesta página).
Apesar de ser muito ligado às tradições de seu país, Yanagi soube assimilar procedimentos industriais e o uso de novos materiais.
Sua banqueta remete à caligrafia japonesa, mas também valoriza procedimentos industriais, que viabilizam a confecção do objeto.
Yanagi foi, por exemplo, um dos primeiros a usar o alumínio. Em 1953, desenvolve uma chaleira para uma companhia local de gás. O objetivo era estimular o uso do gás nas cozinhas japonesas.
No ano seguinte, desenvolve uma banqueta empilhável em fibra de vidro. A banqueta demonstra apego às necessidades japonesas -se adequa a pequenos espaços- e abertura ao Ocidente, através do uso pioneiro do material.
Em toda a sua produção, Yanagi evita as linhas e ângulos retos, que lhe parecem muito funcionalistas, e prefere a elegância das curvas.
Nos anos 60, Riki Watanabe produz uma série de móveis com forte referência tradicional para serem usados em espaços públicos. O banco no alto desta página remete aos telhados dos templos shintoistas e não saiu de linha desde a sua criação, em 1960. Ainda hoje pode ser visto no Museu Nacional de Arte Moderna de Tóquio.
O banco de Watanabe demonstra ainda influência escandinava no uso de madeira reciclável e nas linhas mais puras. Junto com o design italiano, colorido e cheio de formas nos anos 60, a marcenaria escandinava foi uma das influências do design japonês nos anos 50 e 60.
O móvel foi fabricado pela empresa Tendo, do designer Tendo Mokko, que investe muito no uso da madeira reciclável em módulos compensados.
Evolução
A necessidade japonesa de desenvolvimento de um design próprio veio com o fim da Segunda Guerra.
O governo local percebeu que o bom design estimularia as vendas e abriria caminhos para a exportação e investiu pesado no setor durante 15 anos, com resultado melhor que o esperado.
No final dos anos 50, o mercado internacional foi invadido por rádios, televisores e câmeras fotográficas portáteis.
A mostra no Beaubourg se divide em vários setores: tecidos, roupas, embalagens, móveis, objetos de escritório, design industrial, robôs, objetos e design gráfico.
Este último é um dos setores em que o Japão mais se desenvolveu, aliando tradições, como a caligrafia, a tipografia e os quadrinhos (mangás) até as influências ocidentais da arte Pop, fotografia e colagens.
Outra técnica japonesa do design gráfico é tentar iludir o espectador com inteligentes jogos de palavras. Como no cartaz criado em 1955 por Ryuichi Yamashiro (veja foto nesta página).
Nele, Yamashiro transmite a idéia de reflorestamento -o objetivo do cartaz- através de apenas duas palavras: árvore, escrita com dois ideogramas, e floresta, escrita com três.
O meticuloso uso do nanquim e seu diálogo com os espaços em branco revela também influência da pintura a nanquim zen. O resultado final é brilhante.
Livro
A livraria Roteiro (r. Paulistania, 26, tel. 011/263-7379, Sumaré) acaba de receber a 6ª edição do catálogo "Japan's Trademarks & Logotypes in Full Color".
O volume traz milhares de logotipos e projetos de identidade visual de empresas japonesas.
O objetivo inicial da publicação, que seria o de evitar a cópia através da divulgação dos trabalhos realizados pelos designers gráficos japoneses, pode acabar não dando tão certo, já que ele pode ser usado como uma ótima fonte de "inspiração". O volume custa R$ 124,00.

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