São Paulo, quinta-feira, 21 de março de 1996
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Collor e FHC

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Historicamente, o governo de FHC ainda não é pior do que o de FCM -talvez seja aleatória a semelhança das siglas, talvez não. Será difícil superar a marca negativa de Collor, mas Fernando Henrique tem fôlego para essas coisas. Matematicamente (soma das parcelas dos escândalos), o atual governo está dando baile.
O pronunciamento presidencial de anteontem me lembrou o general Médici e outros generais dos tempos de regime militar. Todo mundo falava das torturas, das injustiças sociais, mas o governante de plantão ia para a TV e provava com estatísticas e pesquisas de opinião que tudo estava ótimo, o Brasil crescia, a moralidade imperava etc.
Lembro de um general que atribuiu à sua administração o potencial energético do rio Amazonas -que existe desde quando as águas do dilúvio começaram a baixar.
Alguns reparos a seu pronunciamento: FHC mentiu quando afirmou que o governo dele apurou e revelou o escândalo do Nacional. Foi a revista "Veja" que divulgou aquilo que FHC sabia desde outubro do ano passado. Não fosse a imprensa, o Proer já teria colocado mais dinheiro para garantir "a estabilidade do sistema". Por coincidência, o grupo beneficiado tem relações de parentesco próximo com o presidente -mas não creio, sinceramente, que esse seja o nó da questão.
Outra coisa: o Proer não "produz" dinheiro para ajudar os bancos. Ele "capta" recursos do sistema bancário que tem a seu favor a maior taxa de juros do mundo. Esses juros estrangulam o empresariado, os assalariados. Logo, os bilhões injetados no Nacional saíram do bolso de todos nós -não exatamente do governo.
Correndo por fora: a bravata de Sérgio Motta, amigo nº 1, invocando o autoritarismo como alternativa para a crise, a nostalgia de Pinochet, a eficiência de Fujimori. Justiça a Fernando Collor: nem em seus piores momentos ele teve demência igual.

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