São Paulo, sexta-feira, 22 de março de 1996
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Candidato a sócio do Excel pode ser processado nos EUA

EDIANA BALLERONI
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MIAMI

O banco suíço UBP (Union Bancaire Privée), candidato a sócio do Excel na compra do Econômico, poderá ser processado criminalmente nos Estados Unidos em abril.
A Procuradoria Federal norte-americana informou à Folha que o UBP está sob investigação e existe a possibilidade de o banco ser acusado de lavagem de dinheiro.
"Nós estamos investigando o UBP e verificando até que ponto o banco quebrou as leis norte-americanas. Não posso dar informações, no momento, sobre o que já foi apurado", declarou o agente especial do Serviço de Alfândega David Marwell.
Presos
As investigações sobre o UBP começaram assim que foi desmontado em 1994 um esquema de lavagem de dinheiro que envolveria dez pessoas, entre elas três executivos do UBP. Dois estão presos, assim como um dos principais clientes do banco também está preso.
"Sete dos acusados já se declararam culpados e estão recebendo suas sentenças. Em 1º de abril, acontecerá um julgamento. A partir daí a Procuradoria vai ver o que fazer em relação ao banco", disse.
Segundo ele, vários dos acusados que se declararam culpados estão colaborando nas investigações a fim de obter penas menores.
Um deles é o ex-diretor de contas do UBP em Miami, o suíço Jean-Jacques Handali, 38. Ele se declarou em 7 de fevereiro.
Segundo Paul Lazarus, advogado de Handali, seu cliente está colaborando "completamente".
O esquema era operado pelo menos desde 1986 e envolvia pessoas em Miami e Nova York, Londres e Genebra (Suíça). O dinheiro "lavado" (tornado legal) tinha várias origens, entre elas o narcotráfico.
Receita
As investigações foram feitas pelo IRS, a receita federal dos EUA.
A investigação envolveu dois informantes, agentes do IRS infiltrados, centenas de horas de gravações de conversas e USŸ 2,5 milhões -dinheiro que o governo entregou à quadrilha para ser "lavado", a fim de constituir provas. Até agora não foi recuperado sequer um décimo da quantia.
Há provas de que pelo menos USŸ 15 milhões foram retirados dos EUA pelo esquema. O dinheiro era captado em Nova York e em Miami de empresários que não queriam pagar impostos e de traficantes de drogas que queriam tornar suas receitas legais.
Um contador em Londres cuidava dos papéis que tornavam o dinheiro "quente", por meio da criação de empresas fictícias, contas de banco e de cartão de crédito fantasmas, financiamentos e hipotecas de imóveis que não existiam.
O dinheiro "frio" era então retirado dos EUA -na maioria das vezes, fisicamente transportado em malas para a Suíça, onde era depositado no UBP. Algumas vezes também eram usadas contas em paraísos fiscais do Caribe".
O governo conseguiu provas contra a quadrilha que retrocedem a 1986, mas o "cabeça" do esquema -o empresário Gary Kaminsky, preso e condenado a três anos e meio, disse em uma das conversas gravadas que realizava as operações ilegais havia "mais de 20 anos".
Kaminsky, 56, era o diretor financeiro da Dollar Times, uma cadeia de lojas de varejo de produtos para o lar, com 36 pontos nos EUA. A Dollar Times não está envolvida.
Kaminsky foi o primeiro a ser pego e sua colaboração -também em troca de uma pena mais branda- levou ao desmantelamento do esquema. Suas informações também estão ajudando na investigação do UBP e de outras 12 empresas.

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