São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Porquê o BC errou

CELSO PINTO

O Banco Central errou ao não definir, desde o início, uma regra clara para lidar com a crise bancária que incluísse a hipótese de liquidação dos bancos, públicos ou privados.
Errou, também, ao supor que se não garantisse o dinheiro de todos os depositantes, poderia haver crise de confiança no sistema.
A avaliação é do economista Francisco Pinto, ex-diretor do BC e que ajudou na elaboração inicial do Plano Real. Ligado ao mercado financeiro, Pinto, ao contrário da maioria de seus pares, discorda de que uma quebra de banco, mesmo grande, traria, necessariamente, um "risco sistêmico".
Sua tese é que o BC deveria, desde o início, ter fixado um princípio cristalino, válido para qualquer caso. Se um banco estiver com problemas, a primeira providência é exigir que o acionista controlador coloque o capital necessário para cobrir o buraco. Se o acionista não quiser ou não tiver dinheiro para capitalizar, então liquida-se o banco.
A regra, a seu ver, deveria ter valido tanto para os casos dos bancos estaduais, como o Banespa e o Banerj, quanto para bancos privados, como o Nacional e o Econômico. Como não há regra clara, aumenta a incerteza.
Mas não haveria o risco de uma quebradeira geral de bancos?
O governo diria que sim. Pinto discorda. Ele acha que proteção, de fato, devem ter os depositantes e aplicadores menores, menos informados e mais vulneráveis.
Para protegê-los, contudo, bastaria, a seu ver, ter um seguro-depósito adequado. Quando houve a intervenção no Nacional, foi criado um seguro-depósito que cobre perdas até R$ 20 mil (o suficiente para cobrir 97% das contas do Econômico, segundo o ministro da Fazenda).
Se o governo julgasse insuficiente, poderia elevar o seguro. Sairia mais barato do que bancar qualquer depósito ou aplicação, independentemente do rombo do banco, como aconteceu no caso Nacional.
Ao liquidar o banco, o BC continuaria podendo vender os ativos bons. Só que não teria de cobrir buracos patrimoniais nem aplicações de maior valor.
Pinto é crítico, também, do que chama de inconsistência básica da atual política econômica. Manter déficits nas contas externas e internas, ao mesmo tempo, acaba levando à crise. Em qualquer lugar do mundo, exceto, durante algum tempo, nos Estados Unidos e na Alemanha.
A razão é simples. O buraco externo determina a necessidade de ingresso de dólares e isso exige uma taxa de juros minimamente atraente. O buraco interno, por falta de uma política fiscal eficaz, acaba exigindo uma compensação na forma de política monetária apertada, com juros altos.
Só que os juros altos acabam elevando demasiado o custo do buraco fiscal, restringindo o crescimento e agravando a situação. A certa altura, o financiador externo se assusta, pára de financiar e vem a crise, puxada pelo lado externo. E aí não há taxa de juros que consiga atrair capitais. Como aconteceu no México.
Se há um superávit fiscal, é possível manter um buraco externo porque, se necessário, há espaço para superar uma crise externa pela elevação dos juros. Sem ele, a inconsistência é crise certa, em algum momento no futuro.
Risco
Um levantamento feito por um banco internacional sobre o comportamento de uma série de papéis internacionais de curto prazo de um grupo de bancos e de empresas brasileiras, mostra algumas coisas interessantes.
Comparando as cotações antes, durante e depois da alta de juros americanos e da crise da CPI dos bancos e da derrota inicial da Previdência, conclui-se que: 1) os dois fatos afetaram pouco a cotação dos papéis. 2) de todo modo, os papéis de bancos brasileiros sofreram um pouco mais. Desde 28 de fevereiro, antes da crise, até quinta-feira, o prêmio dos papéis de bancos caiu 0,19%, enquanto o das empresas caiu 0,49%.

Texto Anterior: Errei; Sem resultados; Independência ou...
Próximo Texto: Governistas voltam a pedir coordenador político a FHC
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.