São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
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Das S/As em todo o país, só 4,4% têm ações nas Bolsas

Especialistas distinguem especulador do manipulador

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em um universo aproximado de 20 mil companhias que no Brasil fecham seu nome com a sigla S/A, apenas 879 são classificadas pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) como ativas. Ou seja, com ações negociadas em Bolsas.
O preço das ações multiplicado pela quantidade daria aproximadamente US$ 150 bilhões.
Dessa montanha de dinheiro, pouco mais da metade, cerca de US$ 80 bilhões, está nas mãos de acionistas minoritários (que não têm o controle da empresa).
Destes, a cada ano, US$ 60 bilhões giram pelas Bolsas.
Alternativa
Cada vez mais as empresas recorrem ao mercado de capitais (e não aos bancos) em busca de recursos para seus investimentos.
O pulo do gato é, segundo o deputado Antonio Kandir (PSDB-SP), entender que "as empresas são instituições que podem emitir títulos", de debêntures a ações, para captar recursos.
"As pessoas ainda acham que as empresas só investem com capital próprio ou emprestado", diz.
Afirmando que, na média, os controladores detêm 45% do capital de suas empresas, Roberto Faldini, presidente da Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas), diz ser preciso "assegurar ao investidor a transparência dos dados e dos balanços".
Sérgio Santamaria, diretor de Research do Banco de Boston, acrescenta ser preciso criar mecanismos "simples e descomplicados" para ampliar a base de investidores.
Antonio Sanvicente, do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), destaca a democratização das informações. A Bolsa concentra uma série de dados fundamentais para avaliar o desempenho das empresas e seu futuro.
Especuladores
Sanvicente e Faldini inocentam o chamado especulador. Ele tem um papel de honra a cumprir no mercado: o de garantidor da liquidez.
"Outra coisa é a manipulação, que deve ser combatida e fiscalizada", diz Faldini, que elogia a auto-regulação das Bolsas e pede melhor aparelhamento técnico e material da CVM como "xerife".
A diferença entre especular e manipular é, no fundo, ter ou não acesso a informações privilegiadas. "É positivo para o mercado especular sobre o futuro, mas é negativo ganhar dinheiro com a certeza do futuro", afirma Kandir.
O deputado acha, porém, que a imagem de cassino representa de fato uma parte do que é o mercado. "Como ele é pequeno, sofre mais o impacto da manipulação."

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