São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
Próximo Texto | Índice

Shaq, 145 kg, sorri e morde o mundo

MELCHIADES FILHO
ENVIADO ESPECIAL AOS EUA

No mundo de Shaquille O'Neal, brincadeiras, esporte, entretenimento e negócios se misturam -ou são a mesma coisa.
Se Michael Jordan, 33, é o Pelé do basquete e o atleta mais vendido na Terra, Shaquille, 24, tem tempo para ser tudo isso.
E com a irreverência que falta ao astro do Chicago Bulls.
Já é o terceiro atleta mais bem pago do planeta, atrás de Jordan e do ressuscitado Mike Tyson (boxe).
Em junho, deve assinar o primeiro contrato de USŸ 100 milhões da história do esporte.
Com 2,16 m e 145 kg, virou o garoto-propaganda perfeito do mundo da TV a cabo, dos celulares, dos CDs, da globalização da economia.
É também o protagonista de uma era que está transformando o esporte em showbusiness.
Divide o reino nas quadras com participações em filmes de Hollywood e a gravação de discos.
Seu agente, Leonard Armato, compara-o a uma fusão de Bambi com o Exterminador do Futuro.
Essa imagem não escapou à NBA (National Basketball Association).
A Disney do esporte "adotou-o" em 93, poucos meses depois de seu ingresso no basquete profissional.
O senso de humor, a extrema calma e a superioridade física faziam de Shaquille o santo remédio para uma liga que dava, então, sinais de crise de crescimento.
Na época, os principais ídolos estavam abandonando o campeonato norte-americano. O vírus da Aids abatera Magic Johnson, a coluna afastara Larry Bird e o beisebol atraía Michael Jordan.
Os dirigentes da NBA rapidamente transferiram para as costas de Shaquille um negócio de USŸ 5 bilhões em vendas anuais.
O molecão, 20, correspondeu.
Em sua primeira semana, impôs um estilo "animal" e foi o artilheiro e maior reboteiro entre os 400 atletas da competição.
Com enterradas, sua marca registrada, quebrou duas tabelas na primeira temporada e conquistou uma legião de telespectadores.
Em três anos, levou o time, o Orlando Magic, às finais da NBA, passando pelo Chicago de Jordan e só perdendo para o Houston Rockets.
Seu contrato com o Orlando rende quase USŸ 7 milhões por ano. Os patrocínios elevam esses rendimentos a quase USŸ 30 milhões.
Tanta publicidade e responsabilidade, porém, minaram a imagem de jogador de basquete.
Apesar das excelentes médias de pontos, rebotes e pontaria, padece do estigma ("bom e forte demais") que atormentou o jovem Tyson.
Shaquille afirmou ignorar os efeitos da superexposição.
"A única coisa que me interessa por aqui são jóias", disse, sorrindo, em alusão aos anéis dados aos jogadores campeões da liga.
O pivô conversou com a Folha na saída de jogos e, com mais calma, no All-Star Weekend, fim-de-semana que reuniu em fevereiro no Texas os melhores da NBA.
Pareceu espontâneo, menos ensaiado do que os colegas de liga -treinadíssimos para a mídia.
A aparência engana. Shaquille é um "natural" para conquistar o interlocutor. Segue a mensagem tatuada no seu braço direito.
O desenho: uma mandíbula mordendo o globo terrestre. A inscrição: "O Mundo é Meu".
Shaquille O'Neal morde o mundo e sorri ao mesmo tempo.

CONFIRA o tamanho do pé de Shaquille O'Neal na pág. 6

Próximo Texto: Palmeiras é favorito, o Santos... quem sabe?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.