São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Palmeiras é favorito, o Santos... quem sabe?

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Palmeiras chega diante do Santos, hoje, no embalo de uma das mais espetaculares campanhas que um time de futebol já cumpriu na história do Campeonato Paulista: é goleada sobre goleada e, a cada jogo, uma exibição irretocável de volúpia combinada com refinada técnica.
Sem firulas desnecessárias, porém, esse Palmeiras arrasador joga de primeira, numa velocidade incomparável e sempre em direção ao gol inimigo.
O toque de classe, o lance inventivo, a assinatura ao pé de uma pequena obra-prima elaborada num átimo, tudo isso é intrínseco e só nasce da compulsão pela busca do gol.
Dizendo isso, acabo esculpindo o perfil de Muller, que parece ter alcançado, nesta temporada, a síntese de todos os itens que compõem a cartilha do futebol, moderno ou eterno, como queiram: deslocações constantes pelo ataque, rapidez de reflexos, dois toques mágicos na bola e a assistência ao companheiro ou direto às redes.
Isso exige técnica requintadíssima, precisão no passe e uma visão totalmente abrangente do que significa jogar futebol.
Eis o que diferencia basicamente o Palmeiras de Edmundo do Palmeiras de Muller.
E, ao tocar nesse tema, lembro-me de recente crônica do mestre Armando Nogueira, salpicada de lágrimas de sangue alvinegro, derramadas após a derrota do Botafogo diante do Corinthians, pela Taça Libertadores.
Menos pela derrota em si, mas pela humilhação imposta por Edmundo, que, jogo definido, andou distribuindo irreverentes embaixadas pelo campo. Isso dói mais do que uma goleada histórica, o que me faz solidarizar-me com o mestre (quando isso não ocorre, afinal?).
E aplaudir o goleiro Velloso, em forma esplendorosa, que, ainda na sexta-feira, na Jovem Pan, perguntado se essas goleadas impiedosas que o Palmeiras vem aplicando a cada rodada não eram humilhantes para seus adversários.
Velloso inverteu o jogo: ao contrário -explicou o goleiraço-, a busca incessante do gol é prova de respeito ao inimigo.
Humilhante é o olé ou o desinteresse revelado naquela troca de bola tediosa quando o placar atinge os fatídicos 3 a 0.
Mais um gol palestrino, desta feita marcado com classe pelo goleiro.
*
Já o Santos está em pedaços, literalmente. Com praticamente um time inteiro no gancho ou no estaleiro, o moral lá embaixo, que esperar do vice-campeão brasileiro?
Sei não. Clássico é clássico, diz a voz do povo. Além do mais, apesar da derrota diante do Araçatuba, na quinta à noite, Giovanni deu sinais de recuperação, com algumas jogadas de craque.
Quem sabe, né?
*
Contra o Universidad Católica, foi uma virada heróica, tipicamente corintiana. Contra o outro Universidad, foi uma derrota que deixou no ar um suspiro de alívio: afinal, 1 a 0, lá, não é nada. Basta uma falta de Marcelinho, e estamos quites aqui.
No saldo, o time portou-se, na excursão ao Chile, com dignidade, embora sem brilho. Mas Libertadores é assim: muita luta, pouca invenção.

Texto Anterior: Shaq, 145 kg, sorri e morde o mundo
Próximo Texto: Tragédia italiana
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.