São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
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Homem pode ter vivido no Brasil há 27 mil anos

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

Pesquisadores brasileiros e franceses descobriram indícios de presença humana no Brasil que devem ter até 27 mil de idade.
Ossos de preguiça-gigante, animal já extinto, e objetos foram encontrados no solo de Santa Elina, uma caverna de paredes pintadas, a noroeste de Cuiabá (Mato Grosso).
A equipe liderada pela pré-historiadora Águeda Vilhena Vialou não encontrou ossos humanos, mas instrumentos de pedra.
A pesquisa é realizada por uma equipe do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, coordenada por Levy Higuti, e do Museu Nacional de História Natural da França, coordenada por Denis Vialou.
Os pesquisadores encontraram ossos de Megatherium, uma espécie de preguiça com cerca de quatro metros de altura, datados de cerca de até 12 mil anos.
A descoberta indica que o animal se extinguiu mais tarde no Brasil do que no resto da América do Sul.
Instrumentos de pedra Próximos aos restos do animal foram descobertos instrumentos de pedra lascada pelo homem e lápis de hematita (óxido de ferro).
Como a jazida de hematita mais próxima está a 30 metros, o material foi levado para a caverna.
Até agora, os restos confirmados de presença humana no Brasil, esqueletos, têm cerca de 11 mil anos.
Este tipo de pesquisa é importante para se descobrir quando a América começou a ser habitada.
Uma hipótese comum sustenta que os primeiros homens devem ter chegado ao continente pelo Alasca, vindos da Ásia, há cerca de 30 mil anos. O assunto é polêmico entre os pré-historiadores.
Caverna A caverna de Santa Elina é decorada com cerca de mil desenhos, de várias épocas, que ainda estão sendo estudados.
Cerca de dois terços deles são figuras geométricas.
Mas, nos 60 metros de parede desenhada também aparecem homens com orelhas furadas, animais e monstros, pintados com hematita (laranja e vermelho) e pigmento negro.
Nas camadas mais recentes do solo da caverna, da época contemporânea até 6.000 anos atrás, foram encontrados restos de frutas, vegetais trançados e estacas enfileiradas, que podem ter sido usadas para redes ou para pendurar utensílios.
Numa escavação arqueológica, objetos e a terra são retirados cuidadosamente em camadas.
As mais próximas da superfície são as mais recentes. Ao longo do tempo, o solo vai sendo periodicamente recoberto por terra trazida pela água, por exemplo.
A datação de um osso permite que se identifique a idade das demais peças encontradas no mesmo estrato de terra.
A caverna de Santa Elina foi ocupada sucessivamente por grupos humanos. Os indícios de sua presença estão marcados na "linha do tempo" das camadas de terra.
Nos estratos de até 7.000 anos foram encontradas pedras pintadas com hematita.
Na camada que vai até 12 mil anos foram encontrados ossos de Megatherium e cerca de 40 utensílios de pedra lascada.
Na camada que ainda está sendo estudada, há ossos de Megatherium de cerca 27 mil anos de idade e mais dez instrumentos de pedra. Águeda Vialou volta a escavar em julho, para tentar confirmar a descoberta dos indícios humanos dessa época.

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