São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
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Investidores estrangeiros em Cuba desafiam lei americana

El País
de Madri

MAURICIO VINCENT

Há cinco anos, o diretor-geral dos Hotéis Tryp, Rufino Calero Cuevas, trabalhava em seu escritório em Madri quando recebeu uma visita inesperada. Era Jorge Mas Canosa, presidente da Fundação Nacional Cubano-Americana, a ultraconservadora organização anticastrista de Miami.
Canosa disse a Tryp que seria melhor ele não continuar com projetos de investimento em Cuba, pois quando Fidel Castro deixasse o poder nenhuma empresa mista seria respeitada. Calero expulsou Canosa de seu escritório.
Na época, a Tryp, uma rede que administra 45 hotéis na Espanha, estava construindo o hotel Cohiba, em Havana, em conjunto com um grupo aragonês e em associação com as autoridades cubanas.
O projeto fracassou, mas no ano passado a Tryp voltou a Cuba acompanhada de bancos e associações de mutuários espanhóis.
No início do mês, o grupo deu uma festa no hotel Havana Livre para apresentar oficialmente seus projetos na ilha.
Esses incluem a reabilitação e administração do antigo Havana Hilton, a administração do Paradiso e do Puntarena, na praia de Varadero, e do Cayo Coco, na Província de Ciego de Ávila, além de construção de hotéis em Varadero e Cayo Coco. Mas a Tryp voltou a encontrar obstáculos em seu caminho.
Naquele mesmo dia, o Congresso americano aprovava a lei Helms-Burton, que pretende ampliar o bloqueio a Cuba e impor sanções aos empresários estrangeiros que "traficam" com propriedades de americanos ou cubanos-americanos.
Apesar disso Antonio Briones, presidente da Tryp, estava tranquilo: "Nossos critérios são econômicos e não políticos", disse ele.
Segundo a Tryp, a lei Helms-Burton não a afetaria. O Havana Livre foi construído pelo Sindicato dos Comerciários de Cuba.
Como a Tryp, a cadeia Sol Meliá, que administra hotéis na Flórida, acreditavam que seus interesses não seriam afetados pela nova lei americana, mas se isso acontecesse a maioria estava disposta a enfrentar o risco. Funcionários da Sol Meliá já disseram que em caso de conflito, preferem abandonar seus hotéis nos Estados Unidos do que os interesses em Cuba.
Segundo Rafael Bailo Aznar, representante da Destilerias MG em Cuba, "existe a possibilidade de que a lei dissuada ou desmotive futuros inversores em Cuba".
Até pouco tempo a MG detinha a concessão de distribuição exclusiva na Europa do rum Havana Club, permissão que passou para a francesa Pernaud-Ricard, que poderia ter problemas com os EUA por seus interesses na antiga fábrica do rum Bacardi, em Santiago de Cuba.
"A lei afeta as grandes empresas que têm relações com os americanos", diz Javier Alvarez Bolado, presidente da Associação de Empresários Espanhóis, em Cuba.
Para ele, "os mais prejudicados serão os empresários norte-americanos, a quem o mercado cubano está vedado por decreto".

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