São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
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Cúpula será sobre o tema

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

A difícil convivência corrupção/governabilidade não incomoda apenas a OEA.
O governo do Chile propôs e seus pares aceitaram o tema "Governabilidade para uma Democracia Eficiente e Participativa" para a edição 1996 da Cúpula Ibero-Americana, reunião anual de Espanha, Portugal e todas as suas ex-colônias americanas.
O presidente chileno, Eduardo Frei, admite que o tema da corrupção fará parte da agenda, mas acha que governabilidade, "em uma democracia moderna, inclui toda uma temática muito profunda".
Inclui, para Frei, "uma sociedade civil que participe, partidos políticos consolidados e a eficiência do Parlamento, um dos grandes temas do momento ante a velocidade dos acontecimentos e das decisões".
O temário de Frei é exemplar de outras carências para a governabilidade nos tempos modernos.
Partidos políticos estão em crise generalizada na América Latina. Pesquisas recentes em países tão diferentes e distantes uns dos outros como Chile, Argentina, Nicarágua e Costa Rica mostraram forte queda no prestígio dos partidos e no envolvimento dos cidadãos.
Parlamento
O desprestígio dos Parlamentos é mais antigo e foi até usado como pretexto para um inovador estilo de violência institucional, o autogolpe.
No Peru, deu certo. O presidente Alberto Fujimori, em 92, o ano em que caíram Collor e Pérez, fechou o Congresso e governou autoritariamente.
Na Guatemala, não funcionou. No ano seguinte, o presidente Jorge Serrano aplicou a tática de Fujimori, mas teve de renunciar. Ele próprio era acusado de corrupção.
Tudo somado, chega-se ao seguinte diagnóstico, formulado pela Comissão Sul-Americana de Paz, em reunião realizada em novembro passado em Brasília:
"As elites políticas caíram em um descrédito generalizado, para o que contribuiu a deterioração dos processos de funcionamento das democracias. Há uma crescente sensação de isolamento das direções políticas".
Detalhe: a Comissão é uma ONG (organização não-governamental) com base no Chile, da qual fez parte, no início, o atual presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso.
Está longe de ser um conglomerado esquerdista -tanto que assinam o texto dois ex-presidentes (o brasileiro José Sarney e o equatoriano Osvaldo Hurtado), a mulher de FHC, Ruth Cardoso, quatro ministros do atual governo brasileiro e um punhado de ministros e ex-ministros de países latino-americanos.
É, portanto, muito mais uma autocrítica do que uma crítica.
Tráfico
O documento toca também na questão da corrupção e do narcotráfico. "Ambos são e serão grandes problemas para a sociedade latino-americana do século 21".
(CR)

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