São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 1996
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"Quíntuplos" frustra em sua estréia

NELSON DE SÁ
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Claro, foi uma pré-estréia, ou ainda, um ensaio aberto, pouco mais que um ensaio corrido. E o ritmo, não adianta, vem com o tempo, o aprofundamento.
Ainda assim, sexta-feira última a primeira apresentação de "Quíntuplos" no festival de Curitiba abriu diante de uma expectativa, até por força de ser a principal estréia desta primeira semana, que logo degenerou em frustração.
As primeiras duas cenas, interpretadas com extremo vigor, primeiro por Christiane Tricerri, depois por Luciano Chirolli, já indicaram uma tensão exagerada.
O andamento da apresentação só fez ampliar a impressão. O que ainda havia de humor e criação nas primeiras cenas chegou ao final, quase três horas depois, inteiramente sem forças.
Muito, ao que parece, se deve mesmo ao texto, que está a conter, a limitar, o tempo inteiro, o desempenho dos comediantes.
Humor
O histrionismo, o humor agressivo, bem conhecido, de Christiane Tricerri ainda encontra um caminho em Daphne, o primeiro dos quíntuplos na sequência de monólogos da peça. Na estréia, ela chegou a envolver a platéia.
Também o humor contido, de ironia subliminar, do talentoso Luciano Chirolli parece à vontade com Baby, o segundo dos quíntuplos. Mas as demais personagens, os outros irmãos e o pai, procurando fechar um círculo familiar, vão aos poucos dissolvendo todo o interesse.
Quando Luciano Chirolli se levanta e deixa a última cena, um ator supostamente revoltado com a personagem, parece expressar uma verdade, afinal (já que verdade não havia muito, até ali, nas personagens).
Claro, foi uma pré-estréia -e trata-se de atores, de comediantes de qualidade e sobretudo experiência, que podem recuperar muito, no caminho para o teatro Hilton, em São Paulo, onde a peça estréia daqui a um mês.
E claro, há que se ressalvar figurinos e, principalmente, o cenário de extrema e tocante simplicidade, com belos quadros de cores fortes, cenas familiares dos anos 50, anos 60, ao gosto do figurinista e cenógrafo Patrício Bisso.
Também há que se ressalvar a opção da direção e do elenco, por uma montagem de interpretação, em torno da qual tudo gira, em "Quíntuplos". Mas é certo, também, que a peça original não é de muita ajuda, para tanto.
A melodramática destruição de uma família, com as pequenas grandes tragédias pessoais, resulta aqui em clichês de imagem, antes de mais nada, em tipos -como em algum relato sobre a família Jackson, por exemplo, em que pouco ou nada parece verdadeiro.

Amanhã: "Oeste", de Sam Shepard, com Fábio Assunção, Otávio Mueller e outros, direção de Marco Ricca
Onde: Ópera de Arame, às 21h30 (tel. 041-252-9637)
Amanhã: "Mary Stuart", de Schiller, com Renata Sorrah, Xuxa Lopes e outros, direção de Gabriel Villela
Onde: Teatro Guaíra, às 21h30 (tel. 041-322-2628)

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