São Paulo, terça-feira, 26 de março de 1996
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Deputado revela negociação para apoiar reforma

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A negociação que resultou na mudança do voto do deputado Hermes Parcianello (PMDB-PR) na reforma da Previdência mostra que o loteamento e a barganha de cargos por votos no governo Fernando Henrique Cardoso seguem rigorosamente o mesmo ritual de governos anteriores.
Parcianello votou contra a primeira emenda da Previdência, no dia 6 de março, e chegou a posar de líder dos dissidentes do PMDB.
A mudança de posição, na segunda votação, valeu ao deputado o cumprimento de uma promessa antiga: indicar o responsável pela Superintendência da RFFSA (Rede Ferroviária Federal) no Paraná.
É o próprio Parcianello quem relata à Folha o modo como a troca foi negociada.
O assédio
Segundo o deputado, ele foi procurado pelo seu colega Newton Cardoso (PMDB-MG). Cardoso disse que falava em nome do secretário-geral da Presidência da República, Eduardo Jorge.
Cardoso não usou de meias palavras, contou Parcianello. "O problema é a superintendência da RFFSA?", perguntou.
"É também isso", respondeu o deputado do Paraná, depois de dois dias de negociação.
Entraram na operação o presidente da RFFSA, a vice-governadora Emília Belinati (PR) e o líder do PMDB, Michel Temer (SP), relator do texto da Previdência.
Parcianello levou o cargo e votou a favor da emenda.
A disputa pelo comando da estatal no Paraná era antiga. Tudo começou em março de 1995, quando a bancada do Estado loteou cerca de 40 cargos federais.
Cada posto tinha uma pontuação (100 para a Telepar e 50 para a RFFSA, por exemplo).
A Rede Ferroviária ficou com Parcianello. Como desconhecia o setor, preferiu manter o superintendente da época.
O peemedebista relata que no fim de 1995 recebeu um telefonema do chefe de gabinete do Ministério dos Transportes, Gilson de Moura.
Foi lembrado de que era o responsável pelo posto: "O cargo é seu", teria dito Moura.
Mas o chefe de gabinete teria acrescentado que o presidente da RFFSA, Isaac Popoutchy, queria falar com o deputado.
Popoutchy ligou para Parcianello e disse que queria colocar um técnico catarinense no cargo (Renato Dalascio).
O deputado conta que cedeu o cargo, mas fez um pedido: a manutenção de Adalberto Alves de Souza numa diretoria. Era um pedido de toda a bancada paranaense. Mas Dalascio assumiu e afastou Souza.
Cargo não vale nada
"Achei uma desconsideração. Ele não me telefonou, não me avisou", conta Parcianello. Em seguida, 25 deputados do Paraná exigiram a nomeação de Souza para o cargo de superintendente.
Passaram-se três meses, e o Palácio do Planalto não respondeu. Até que Cardoso assumiu a negociação. Parcianello disse que lutou pelo cargo porque era um desejo de toda a bancada. "Esse cargo não vale nada. Na nossa cotação, tinha 50 pontos. Mais baixo que isso só a Funai. Além disso, a Rede vai ser privatizada em três meses", disse.

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