São Paulo, terça-feira, 26 de março de 1996
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Governo fez troca de favores, diz Tasso

VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), disse ontem em Recife (PE) que o governo federal "recorreu ao fisiologismo" para obter vitória nas últimas grandes votações no Congresso (arquivamento da CPI dos Bancos e reforma da Previdência).
Tasso admitiu também que, "em alguns momentos", o governo esteve refém do fisiologismo (cessão de cargos e recursos públicos a parlamentares para assegurar apoio no Congresso).
"No sistema democrático não é fácil se fazer reformas como fizemos, que implicam mudanças de ordem constitucional", disse ele.
As afirmações do governador cearense foram feitas em entrevista coletiva, momentos antes da abertura do seminário "Nordeste em Exame", promovido pela revista Exame e do qual ele foi um dos participantes.
Os jornalistas haviam perguntado se o governo federal havia adotado o fisiologismo para convencer os parlamentares. "Não, não adotou", respondeu.
"Mas o governo recorreu ao fisiologismo?", foi a pergunta seguinte. "Sim, recorreu", disse ele.
"Da maneira como está o sistema político brasileiro, é praticamente impossível, nas circunstâncias atuais, fazer valer alguns projetos sem um pouco dessa prática", afirmou Tasso, referindo-se a troca de favores de iniciativa do Palácio do Planalto.
Para a aprovação da reforma da Previdência e o arquivamento da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Bancos o governo federal ofereceu cargos e obras nos Estados e assumiu dívidas.
Na última quinta-feira, depois da vitória nas votações, o presidente Fernando Henrique Cardoso, por intermédio do porta-voz Sérgio Amaral, negou que tivesse atendido pedidos de parlamentares em troca de votos.
Tasso, que é do mesmo partido de FHC, disse que "o fisiologismo é uma praga mortal para o país" e que só com reformas políticas será possível extingui-lo.
A melhor forma de "apressar o fim do fisiologismo", na opinião dele, seria com a adoção do parlamentarismo.
"No sistema em que vivemos, em que o Congresso tem uma força enorme e é imune a qualquer crise na questão dos mandatos e na sua estabilidade, existe sempre um campo de cultura favorável a esse tipo de prática", disse.
Já o sistema parlamentarista, continuou, obriga uma co-responsabilidade do Congresso com o governo. No momento em que o governo entra em crise, o Parlamento também entra em crise.
Tasso disse acreditar, no entanto, que, "ao fim da implantação das reformas de Estado", o fisiologismo será "minimizado, mesmo mantido o presidencialismo".

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