São Paulo, terça-feira, 26 de março de 1996
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Privatização paulista

CELSO PINTO

O Estado de São Paulo, quem diria, poderá saltar na frente no programa de privatização do seu setor elétrico.
Só a Companhia Energética de São Paulo, a Cesp, tem um programa de desmobilização de ativos, que inclui a venda de usinas hidrelétricas, de R$ 4 bilhões nos próximos dois anos. Para se ter uma comparação, o orçamento da União deste ano prevê uma receita de R$ 4 bilhões para todo o programa de privatização federal.
Parte dos planos do governo paulista para o setor elétrico ainda depende da aprovação da Assembléia Legislativa. A expectativa, de todo modo, é que até o final do ano seja possível anunciar os primeiros negócios. Mesmo que a venda, em si, leve algum tempo, sempre existe a possibilidade de antecipar a receita futura através do BNDES.
O caso da Cesp é um bom exemplo das razões que fazem com que a venda de ativos seja, hoje, menos uma questão ideológica do que pragmática. Apesar de todo o esforço de ajuste e reestruturação da Cesp, sua dívida de R$ 10,8 bilhões é impagável, para uma empresa que teve uma receita operacional de R$ 2,9 bilhões no ano passado.
A Cesp está publicando hoje seu balanço do ano passado. O resultado é um prejuízo de R$ 193 milhões, que se compara a um lucro líquido de R$ 410 milhões em 1994.
É o caso típico de um mau resultado de balanço que esconde uma melhora na situação econômica da empresa, tanto quanto o bom resultado do balanço de 94 mascarava uma deterioração de sua situação.
Em 94, a Cesp, fortemente endividada em dólares, foi beneficiária do "efeito Gustavo Franco" (diretor da Área Externa do BC). Depois do Plano Real, a valorização de 15% do real frente ao dólar acabou dando uma ajuda contábil de R$ 800 milhões. No ano passado, o ganho cambial desapareceu.
Além desta diferença, o resultado foi também afetado pelo reconhecimento, pela Cesp, de um déficit atuarial do Plano de Previdência dos funcionários da CPFL, de R$ 89 milhões. A empresa não tinha outra opção: como deverá lançar o equivalente a US$ 710 milhões em eurobônus denominados em marcos alemães, em abril, estava obrigada a reconhecer este prejuízo.
Apesar da trombada no resultado final, a Cesp fez um esforço real no sentido de enxugar a empresa e torná-la mais eficiente. O resultado operacional com a venda de energia cresceu 37%, com um aumento de R$ 127 milhões na receita e redução de R$ 219 milhões nas despesas operacionais.
No final de 94, a empresa tinha 19,7 mil funcionários. Hoje tem 12,8 mil. Os gastos de pessoal, no ano passado, caíram 25% e os cortes foram proporcionalmente maiores nos níveis mais altos. O número de gerentes e assessores, por exemplo, foi cortado em 45% (de 677 para 343).
A Cesp reduziu pela metade o número de prédios locados, cortando em 11 mil metros quadrados o espaço ocupado por seus escritórios em áreas nobres de São Paulo. Foram liberados nada menos do que 46 mil itens de mobiliário.
O número de veículos alugados pela empresa foi reduzido em 83% e foram vendidos dois aviões. Apesar da venda dos aviões próprios, a emissão de passagens aéreas para os funcionários, de 3.500 em 94, caiu pela metade.
A Cesp fechou cerca de 200 agências de representação que tinha no interior e que funcionavam, na prática, como pontos de interesse político. Substituiu estas agências por serviços de atendimento aos clientes por telefone, através de linhas gratuitas (0800). Os indicadores de satisfação dos clientes aumentou de 78% para 87%. A empresa reduziu investimentos em R$ 488 milhões e renegociou R$ 3,1 bilhões do passivo.
Com tudo isto, no entanto, só a venda de ativos poderá, de fato, recolocar a empresa numa situação razoável. Os planos do Estado, aliás, prevêem a própria privatização futura da Cesp, dividida em cinco empresas de geração de energia e duas de distribuição. O Estado ficaria apenas com a área de transmissão.

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