São Paulo, terça-feira, 26 de março de 1996
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Comando do PT é derrotado nas prévias

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A direção nacional do PT sofreu duas derrotas significativas nas prévias que escolheram, no último domingo, os candidatos do partido às prefeituras de São Paulo e Salvador.
Em São Paulo, o candidato da cúpula era o ex-deputado Aloizio Mercadante, derrotado pela ex-prefeita Luiza Erundina.
Em Salvador, a preferência dos caciques era por Jaques Wagner, ex-líder da bancada petista na Câmara. Ele perdeu para o deputado estadual Nelson Pellegrino.
Wagner teve o apoio de Luiz Inácio Lula da Silva, seu amigo desde os tempos de sindicalismo. Lula foi até Salvador pedir votos para o deputado. Pellegrino pertence às correntes mais à esquerda do PT.
O presidente nacional do partido, José Dirceu, viajou até a Bahia e articulou a candidatura de Wagner, costurando um acordo entre outros pré-candidatos, que acabaram desistindo para apoiar o deputado federal.
Explicações
O plano da direção petista, que começa a desmoronar, era não ceder candidaturas a quem, em seu entender, não tivesse chance de concorrer em 3 de outubro. É o caso, no raciocínio da direção, do deputado estadual Pellegrino.
"Em São Paulo a derrota foi relativa porque muita gente da Articulação apoiou a Luiza", tentou minimizar José Dirceu.
A Articulação é a corrente de centro do espectro petista. Dirceu, Mercadante e Lula estão entre as referências nacionais do grupo.
"Muita gente não se empenhou na prévia da Bahia e sempre tivemos problemas lá", disse Dirceu sobre a derrota da ala de Lula em Salvador.
Com um revés à esquerda (BA) e outro à direita (SP) na disputa interna, o grupo que dirige a legenda terá que conviver agora com um fenômeno novo: a falta de sintonia entre as correntes e o eleitorado do partido.
Tradicionalmente, todo o jogo político no PT se dá em cima de "crachás", ou seja, de quantos delegados cada corrente leva para as convenções que determinam a divisão de poder.
Em São Paulo, por exemplo, se a disputa pela candidatura se desse pelo método dos crachás, Mercadante teria vencido Erundina.
O ex-deputado era apoiado pelas mais expressivas tendências organizadas do PT. O mesmo não ocorreu, como se viu, entre os filiados, que hoje majoritariamente não frequentam as atividades partidárias, a não ser em épocas eleitorais.
O comando do PT não queria as candidaturas do vereador Chico Alencar e do deputado Marcelo Dias, os dois pré-candidatos, e trabalhava com a certeza de que o quórum não seria atingido.
Casos pendentes
Os outros casos pendentes que preocupam são Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Santos (SP) e Diadema (SP). Nas duas últimas cidades o problema é o clima tenso que envolve a luta para conseguir a legenda.
"O saldo das prévias é positivo", principalmente em São Paulo", avaliou Dirceu. Ele argumentou com a presença de quase 10 mil filiados, o que em seu entender prova a mobilização para a eleição.
O PT divulgou no final da apuração os seguintes números: 9.932 votantes, 9.126 votos válidos, 346 (Tereza Lajolo), 3.355 (Mercadante), 5.073 (Erundina), 50 brancos, 178 nulos e 578 impugnados.
A soma dos números divulgados, porém, não atinge o número de votantes. Segundo a assessoria de imprensa do Diretório Municipal, houve erro e o partido está checando todas as atas da votação.
Erundina teve votação espalhada em todos os diretórios. A balança desequilibrou a seu favor graças principalmente aos votos da Capela do Socorro (região sul).
A expectativa no PT é que ela consiga atrair o grupo de Mercadante para sua campanha.

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