São Paulo, terça-feira, 26 de março de 1996
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Leitor "veloz" faz jornais mudarem

DA REPORTAGEM LOCAL

A "cadernalização" dos jornais impressos brasileiros foi determinada pelo "culto tecnológico e o ritmo veloz das modernas sociedades de consumo", afirma o jornalista Rafael Souza Silva em sua tese de doutorado, "O Zapping Jornalístico - Da Sedução Visual ao Mito da Velocidade".
Segundo o jornalista, esse processo de distribuição das notícias em cadernos foi liderado no Brasil pela Folha, o jornal que serve como "caso" a ser estudado na tese.
Em sua dissertação, Silva afirma que o layout (disposição de textos e ilustrações) das páginas dos jornais se desenvolveu "como instrumento de sedução visual".
Silva foi responsável pela reforma gráfica-editorial do jornal "A Tribuna" de Santos (SP) em 1991.
Segundo o jornalista, a concorrência da mídia eletrônica, especialmente da televisão em cores a partir de 1972, trouxe a necessidade de os jornais recorrerem também ao uso da cor.
Ele diz que as empresas tiveram que rever "sua estrutura industrial arcaica, dotando seus parques gráficos de moderna tecnologia para enfrentar esse novo desafio".
Ousadia
Também longamente analisado, o fator geométrico -por exemplo, a introdução de módulos ou espaços geométricos predeterminados no layout da página- traduziria "um comportamento rítmico que racionaliza a leitura e personaliza a produção industrial da página, dotando a publicação de uma identidade gráfica definida".
Silva tomou como ponto de partida o Projeto Folha iniciado em 1982.
"De maneira ousada e ambiciosa, a Folha) realizou aquele projeto, dotando o veículo de moderna tecnologia, implantando definitivamente um novo jornalismo industrial, aliado a um arrojado processo de marketing, alterando completamente a anatomia dos jornais brasileiros nos anos seguintes", afirma a tese.
Desse estudo, o autor deriva o conceito de "zapping como uma abstração"."Do mesmo modo que o radiouvinte e o telespectador munido com um controle remoto rastreiam as emissoras, o leitor de jornais, de maneira análoga, separa os cadernos segmentados por assuntos específicos de sua preferência".
Mas, nesse processo, Silva vê um perigo: "a morte simbólica do jornalismo". "Aceleração do ritmo jornalístico e excesso de informações podem deixar a informação sem profundidade", diz.

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