São Paulo, terça-feira, 26 de março de 1996
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Banco do Brasil, o Banespa federal

LUÍS PAULO ROSENBERG

A caixinha de surpresas do governo Fernando Henrique é inesgotável.
Quando se está dissolvendo a crise política detonada pela criação da CPI dos Bancos e pela derrota da proposta do primeiro relator da reforma previdenciária, fica-se sabendo das medidas propostas para sanear o Banco do Brasil.
Só mesmo no país do Clarimundo pode-se divulgar, com a maior naturalidade, que o Governo deve providenciar um aporte de R$ 8 bilhões, para cobrir o rombo existente no maior banco do país. E essa é a boa notícia.
A ruim é que, só nos primeiros meses de 1996, o prejuízo do banco que se vangloria de comandar uma bancada parlamentar de mais de 160 votos já ultrapassa R$ 5 bilhões.
Há um lado positivo nesse episódio. Realmente, se existe um problema, é sempre melhor do que empurrá-lo com a barriga, diagnosticá-lo, expor à sociedade toda a sua extensão e implicações e resolvê-lo.
O atual presidente do banco, portanto, é credor da nossa admiração por buscar eliminar, de uma só vez, várias camadas geológicas de desacertos e protecionismos implícitos na ação do Banco do Brasil, no seu papel de braço armado da generosidade seletiva do governo federal.
Transparência é isto: a sociedade tomando conhecimento do quanto custa, quando se usa o subsídio ao crédito para travestir sugador das tetas oficiais em empresário promotor do desenvolvimento.
De um governo coerente, entretanto, exige-se algo mais. Identificado o problema, saneado o rombo, que se assegure à nação que o despautério jamais se repetirá. Como?
Simplesmente, adotando-se para o governo federal a mesma receita que o próprio governo federal propôs, infrutiferamente, ao governador Mário Covas.
De fato, se em São Paulo a solução final defendida pelo Banco Central para o rombo de R$ 15 bilhões do Banespa era a sua privatização. Por que não enveredar pelo mesmo caminho, no caso do Banco do Brasil?
Em ambas as situações, o banco estatal serviu para driblar a democracia, fazendo transitar recursos públicos à margem dos controles legislativos sobre o Orçamento.
Nos dois casos, tudo que o banco fez de meritório poderia ter sido implementado por um banco privado, agindo por delegação limitada do governo.
Tanto no Banespa como no Banco do Brasil ficou demonstrado porque, nos países civilizados, governos democráticos jamais dependeram de ter um banco comercial para bem governar: o perigo dos desvios de recursos é muito superior aos benefícios da flexibilidade propiciada.
O presidente Fernando Henrique deve ao governador Mário Covas este gesto de consistência: propor a imediata inclusão do Banco do Brasil na lista das estatais privatizáveis.
Sob pena de igualar-se ao pároco daquela velha anedota, que, tendo descoberto estar sumindo, diariamente, meio litro de vinho da sacristia, convoca o sacristão ao confessionário e pergunta-lhe: "quem anda bebendo o vinho da igreja?"
O sacristão responde que não consegue escutar o que o padre dizia. Depois de repetir, diversas vezes, a pergunta, sempre recebendo a mesma resposta esfarrapada do sacristão, o padre tem a brilhante idéia de propor a troca de lugares.
Sentado, agora, dentro do confessionário, o sacristão é quem apressa-se em perguntar: "Padre, quem é que está encontrando-se, às escondidas, com a mulher do sacristão?" O padre, muito sem graça: "Ô sacristão, não é que daqui não dá para escutar nada, mesmo?"

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