São Paulo, terça-feira, 26 de março de 1996 |
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Nossa, o Palmeiras está magniloquentíssimo!
MATINAS SUZUKI JR.
Alguns palmeirenses confessam que ainda esfregam os olhos, temendo acordar de um sublime devaneio. Outros, já totalmente entregues à embriaguez dionisíaca da vitórias, à orgia do gols, se perguntam se este não é o melhor time de todos os tempos. Os números são magniloquentíssimos. Marcar uma média de seis gols em quatro jogos seguidos não é para qualquer Real Madrid com Di Stefano, para qualquer seleção húngara com Puskas, não é para qualquer Milan com Van Basten (muito menos para qualquer Ajax com Kluivert). Também não era para o Santos de Pelé, que, como já se viu, teve uma média de gols, até agora, inferior à do super-Palmeiras. Mas, falei um Di Stefano, Puskas, Van Basten, Pelé... ...e qual jogador desta neo-Academia poderia cumprir o papel de supremacia, o papel hegemônico, ocupado por esses grandes jogadores em suas inesquecíveis esquadras? Mas, cadê o Antônio Conselheiro, o Garibaldi, o Zumbi, o Andre Breton, o Trotsky, o grande timoneiro Mao, o Che Guevara desse audacioso exército esmeraldino? Cadê o Rivelino dos tempos do Corinthians, o Maradona de tantos times, o Cruyff da laranja mecânica, o Zico do Flamengo, o Falcão do Internacional e rei de Roma? Não, diferentemente da academia anterior, este time não tem o Ademirável da Guia, um sábio, um deus zen-budista da bola, um iluminado de cabeça dourada, capaz de transformar o deslocamento do balão em movimento poético no calibre de João Cabral. O apaixonado amante do Palmeiras procura, procura, em vão, o novo Guia desse time. Ele vê o milagre e procura o santo (não o Santos, porque este, coitado, foi expulso das palmeiras do Paraíso). Ele tem a fé e procura o criador. No sábado, antes da cerimônia de celebração do futebol oferecida pelo alviverde pendão da nossa terra, às margens do Atlântico, vi, em canal da TV paga, um documentário sobre Elia Kazan. O magnífico diretor de cinema dizia que um grande filme guarda em si uma espécie de milagre. Pois o Palmeiras, sem um grande timoneiro, fez do futebol uma aventura escrita com muitos gols. Seu pequeno mistério é uma química que corre, de pé para pé, em uma velocidade superior à dos outros. É um time funcional, objetivo, rápido. Em termos da história da arte, está mais para a Bauhaus do que para o Art Decô: é um time que produz mais arte do que artistas. Talvez a velha Academia tivesse um time melhor. Talvez o Palmeiras do início dos 90, em termos técnicos e individuais, fosse um time melhor. Não importa. Quando você tem dois Hermes, dos Mercúrios, mensageiros dos deuses com mil fôlegos, um chamado Rivaldo e outro chamado Cafu, o mundo torna-se um planeta muito pequeno. Eis o que é o Palmeiras: um time enviado pelos deuses, mas sem um Deus. Graças a Deus! Texto Anterior: Treinador quer avaliar três 'veteranos' Próximo Texto: Na escola Índice |
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