São Paulo, terça-feira, 26 de março de 1996
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Mário Schenberg vem abrir sua mostra de helicóptero

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

Vai ter banda de música e fita para o físico Mário Schenberg cortar amanhã na abertura da mostra "O Mundo de Mário Schenberg".
Depois, já dentro da Casa das Rosas, Mário Schenberg vai encontrar Mário Schenberg. Isso mesmo! O físico se multiplica na mostra como se multiplicou na vida real.
O primeiro Schenberg desce no corpo do artista plástico Ivald Granato, que com Jorge Mautner (um dos grandes amigos do físico), chega de helicóptero.
O segundo, incorpora no teatrólogo José Celso Martinez Corrêa, que em uma vídeo-instalação logo na entrada explica o "Efeito Urca", sobre o mecanismo de explosão das estrelas supernovas.
Com esta teoria, desenvolvida com o físico russo-norte-americano George Gamow no início dos anos 40, Schenberg ganha notoriedade mundial (em 1941, Einstein o classifica como um dos maiores físicos da época).
Trabalha ainda com os maiores físicos de seu tempo, como o italiano Enrico Fermi, o austríaco Wolfgang Pauli e o indiano Subrahmanyan Chandraseksar, só para citar três que receberam o prêmio Nobel, em 1938, 1945 e 1983.
Mas nem só de Física vivia Mário Schenberg. "Em princípio, sou capaz de me interessar por tudo", disse em entrevista em 1984. E colocou esta máxima em prática todos os dias.
Interessou-se por artes plásticas, fotografia, política, ecologia, religião e filosofia orientais. Algumas áreas lhe deram alegrias, outras -como a política- dissabores.
Comunista desde os comícios da Coluna Prestes, na natal Recife, Schenberg foi um dos professores da USP cassados pelo AI-5. Em 1964, o reitor Gama e Silva nomeia uma comissão para investigar "atividades subversivas" na USP.
Em outubro, a comissão sugere a suspensão dos direitos políticos de 52 pessoas (44 professores, alunos e funcionários). Schenberg, o primeiro da lista, é proibido de lecionar, tem seu passaporte cassado e, em 1965, fica preso 50 dias no Dops. Gama e Silva se torna ministro da Justiça em dois governos (Ranieri Mazzilli e Costa e Silva). A trajetória política de Schenberg será mostrada em salas nos porões da Casa das Rosas.
A perseguição política quase o impede de participar de um simpósio internacional de físicos em Kyoto, no Japão. Com sua prisão preventiva pedida, antes de se entregar e tentar viabilizar sua viagem, Schenberg endereça um manifesto "aos cientistas, artistas e estudantes do Brasil".
O manifesto é seu pedido de liberdade, mas também sua declaração de amor aos três segmentos aos quais mais se dedicou. A mostra "O Mundo de Mário Schenberg" vai tratar de todos eles. "Schenberg foi um dínamo e abriu várias vertentes da cultura brasileira", disse José Roberto Aguilar, diretor da Casa das Rosas.
A mostra é a primeira a ocupar toda a Casa das Rosas. Obras de artistas como Mira Schendel, Lygia Clark, Valdomiro de Deus, Aloísio Siqueira e Amélia Toledo -revelados ou incentivados pelo físico- ocuparão corredores, salas, cozinha e até banheiros do museu.

Mostra: O Mundo de Mário Schenberg Onde: Museu Casa das Rosas (av. Paulista, 37, tel. 011/251-5271) Quando: abertura amanhã, às 20h; ); de terça a domingo, das 12h às 20h. Até 19 de maio. Entrada franca

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